23 junho 2018

A SAGA DOS IMIGRANTES INGRATOS

Estas duas vinhetas foram publicadas nos finais do século XIX pela revista satírica norte-americana Puck. Convém esclarecer que o fundador e principal desenhador da publicação em causa, que aparecera em 1871, se chamava Joseph Keppler, nascido em Viena de Áustria. Mais: durante boa parte da sua existência, a revista, embora publicada nos Estados Unidos, tinha duas edições: uma em inglês, outra em alemão. A simpatia para com a causa dos imigrantes seria, por causa disso, indiscutível. Estes dois desenhos, ambos da autoria de Keppler e separados por uns dez anos mostram, a esse respeito, um fenómeno social recorrente, embora nada altruísta. Na vinheta de cima, publicada por volta de 1880, os imigrantes são acolhidos de braços abertos numa arca de refúgio por uma figura assemelhando-se ao Tio Sam. Na tabuleta são-lhes prometidas que não haverá «impostos opressivos», «monarcas dispendiosos», «serviço militar obrigatório», «chicotes», nem «masmorras». Na vinheta de baixo, antigos imigrantes (conforme se percebe pelas silhuetas das suas figuras aquando da chegada à América que são projectadas na parede atrás deles), agora já bem instalados na vida, manifestam-se ostensivamente contra a chegada de mais imigrantes, companheiros de infortúnio e de ambições. O desenho será de cerca de 1890, Keppler morreu em 1894 e conhecia bem os meios dos imigrantes bem sucedidos - ele próprio tornara-se num, o que não o impedia de os satirizar, como aqui se vê. Curiosamente, foi num ano bem próximo a estes (1892), aquele em que Friedrich Trump, o imigrante bávaro que foi o avô paterno de Donald, obteve a sua naturalização, depois de ter chegado à América sete anos antes. Como se vê pelo que está a acontecer, em 130 anos pode-se apagar a memória dos homens, sem que nada se modifique na natureza humana.

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