26 de Junho de 1918. Há precisamente cem anos concluía-se a Batalha do Bosque de Belleau (Bois de Belleau no francês original, Belleau Wood para os americanos que a venceram e promoveram), um feroz embate táctico entre as energias das últimas ofensivas do exército alemão e a resistência encarniçada por parte das unidades do recém chegado exército norte-americano, que ali provaram o seu valor. Entre estas, e apesar do bosque se situar a quase 200 km de distância do mar, alguns batalhões do Corpo de Fuzileiros dos Estados Unidos. Como aconteceu recorrentemente ao longo da Primeira Guerra Mundial, mesmo as unidades tradicionais tiveram de combater nos locais e com os meios que as circunstâncias da guerra impuseram, esquecendo o papel tradicional que lhe fora atribuído. Foi assim com as unidades da cavalaria tradicional, que passaram toda a guerra apeados dos seus cavalos a combater nas trincheiras, e foi assim com os fuzileiros, que passaram a guerra a combater a centenas de quilómetros do mar. Pelos padrões das grandes batalhas da Frente Ocidental, e tomando o número de baixas como indicador da violência dos combates, a Batalha do Bosque de Belleau terá sido um enfrentamento muito secundário: os norte-americanos tiveram dez mil baixas, dois mil mortos e oito mil feridos (enquanto, para comparação, as baixas francesas e britânicas nas verdadeiras grandes batalhas do conflito - Verdun, Somme - se contam pelas centenas de milhar...). Mas a ocasião foi sublimada para a promoção não apenas da atitude dos norte-americanos, como sobretudo da conduta do seu Corpo de Fuzileiros (abaixo). Um agradecido governo francês foi cúmplice nessa acção promocional. Laços de cumplicidade que se perpetuaram para lá do fim da guerra, numa espécie de penhor que os dois governos invocavam quando precisavam de reanimar as relações entre os dois países. Em 1942, por exemplo, deu-se o nome simbólico de Belleau Wood a um porta-aviões norte-americano; esse mesmo navio, com o nome Bois Belleau, veio a ser posteriormente emprestado à França entre 1953 e 1960. Depois disso, entre 1978 e 2005, os norte-americanos baptizaram um grande navio anfíbio com o mesmo nome. O tópico do bosque de Belleau parece ser um daqueles assuntos em que a França e os Estados Unidos podem se reconfortar num assentimento diplomático tácito. Ou, pelo menos, parecia ser assim. Na sua recente visita a Washington, em Abril deste ano, Macron trouxe um carvalho daquele famoso bosque que foi replantado numa photo-op pelos dois presidentes nos jardins da Casa Branca. Mas, apesar de centenário, o tradicional efeito apaziguador de Belleau parece não estar a sortir efeito com Donald Trump.
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