3 de Junho de 1999. O Conselho Europeu de Colónia escolhe para Alto Representante para a Política Externa e de Segurança Comum o espanhol Javier Solana (n.1942). O título do cargo, que fora criado no âmbito do Tratado de Amsterdão (1997), tratado esse que acabara de entrar em vigor há um mês (1 de Maio), era tão comprido quanto pomposo, quanto ambiciosas as competências do titular. Tanto assim que se escolhera para o ocupar uma pessoa com provas dadas, que fora o secretário-geral da NATO nos últimos três anos e meio. Com uma imagem prazenteira e bem disposta, o desafio do novo Alto Representante etc., denominado alternativamente por ministro dos Negócios Estrangeiros da União, por parte dos euro-entusiastas, mas também por senhor PESC (abreviatura de Política Externa e de Segurança Comum), por parte dos euro-cépticos, o desafio, relembre-se, era enorme: provar que se podia estabelecer um denominador comum e uma bissectriz entre os interesses e os posicionamentos divergentes dos então 15 membros da União. Como sintetizara alguém do outro lado do Atlântico: um interlocutor que falasse (com eles, americanos) pelo colectivo europeu em caso de necessidade. Foi um fiasco. Dois Tratados depois, na conclusão do de Lisboa em 2007, e num famoso vídeo em que José Sócrates deixa o seu próprio ministro dos Negócios Estrangeiros de mão estendida no ar, a linguagem corporal do mesmo Sócrates mal esconde o desdém que a figura do Alto Representante lhe merece (logo aos 0:10 s), quando em contraste com as mesuras servis que dispensa à chanceler alemã, ao presidente francês ou ao primeiro-ministro britânico.
E, já que a implantação do cargo falhara, o que é que se lhe fez com aquele Tratado que justificara as efusões (o de Lisboa)? Extingue-se? Não, à boa maneira burocrática de Bruxelas, aumenta-se (pelo menos na aparência...) a parada: estica-se-lhe o nome, na esperança (vã) que a coisa assim se há de emendar e que o cargo granjeará prestígio milagrosamente. A sucessora de Javier Solana a partir de 2009 tinha o título ainda mais pomposo de Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança. Se eu me lembro do sorriso constante de Solana, um sorriso que as circunstâncias tornavam despropositado, tal a constância das desconsiderações que sofria da parte de quem retivera para si as alavancas da política externa e de segurança, a natureza foi menos caridosa para o semblante da inglesa Catherine Ashton (n.1956), que tomou posse em 2009 e de que eu não me lembro a fazer nada de relevante. E quanto à sucessora dessa sucessora, em 2014, veio de Itália e chama-se Federica Mogherini (n.1973). Vemo-la pouco e eu, se calhar, preferiria vê-la ainda menos, como é o caso desta sua fotografia abaixo com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão em que se cobriu com um véu... (vamos, por nossa vez, emprestar ao ministro iraniano uma gravata, como acontece nalgumas salas de jantar mais seleccionadas?...) Enfim, assinalem-se os 19 anos do aparecimento de um cargo que gerou muitas expectativas, mas que é hoje reconhecidamente inútil.
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