9 de Junho de 1968. Se as ondas de choque daquilo que acontecera em França se espalhara pela população estudantil de toda a Europa, países houve em que esse impacto se tornou mais efectivo como foi o caso da (então unida) Jugoslávia. A 2 de Junho de 1968 (já os acontecimentos em França estavam na sua fase descendente) e por um motivo perfeitamente pueril, a falta de bilhetes para um espectáculo teatral, produzira-se uma reedição em Belgrado do encadeado quotidiano de protestos estudantis e de enfrentamentos nas ruas dos estudantes com a polícia, à boa maneira das imagens do Quartier Latin que haviam corrido mundo. Depois os protestos haviam-se propagado de Belgrado às outras capitais jugoslavas, Zagreb, Sarajevo e Ljubljana, demonstrando-se o quanto a contestação era transversal às várias nacionalidades. Para além da França, outra fonte de inspiração dos manifestantes era a Checoslováquia e as reformas que ali se ensaiavam no monolítico regime comunista vigente, a denominada Primavera de Praga. A ameaça pairava mas, ao contrário de de Gaulle, Tito não foi apanhado desprevenido e, apesar dos seus 76 anos, não vacilou. Há precisamente 50 anos, era Domingo e a contestação tinha começado há precisamente uma semana, quando Tito apareceu na televisão com um discurso em que atribuía condescendentemente alguma razão aos estudantes enquanto lhes anunciava várias concessões (mesmo sem perceber o servo-croata, a linguagem corporal de Tito no tal discurso no vídeo abaixo mostra isso mesmo - e dá vontade de rir ouvi-lo a justificar o apartamento dos estudantes da actividade política, quando por cá os comunistas tinham organizações como a UEC...). A contestação estudantil na Jugoslávia perdeu gás, foi dominada e ficou esquecida, tirando aqueles que o poder considerou os cabecilhas e que foram depois discretamente apanhados (e sancionados) um a um. É o género de episódio que raramente aparece evocado e há várias razões para tal, embora nem todas sejam transparentes, uma delas será a cegueira ideológica - por exemplo, não existe uma página em francês na wikipedia evocando o assunto e Deus sabe como os franceses adoram gabar-se da influência que as suas revoluções têm por essa Europa fora... e nesta outra página da wikipedia, o caso da Jugoslávia nem sequer aparece mencionado.
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