Mesmo para aqueles que, como eu, têm mais de quarenta anos e mesmo que não sejam apreciadores de patinagem artística, o nome de Irina Rodnina ainda é capaz de ser vagamente familiar. As sucessivas transmissões televisivas que a RTP fazia no Inverno dos campeonatos europeus, mundiais e olímpicos de patinagem artística muitas vezes mencionaram o nome daquela patinadora russa ao longo da década de setenta.
E não é para menos. O palmarés de Irina Rodnina inclui a vitória em 11 campeonatos europeus (1969 a 1978 e 1980), em 10 campeonatos mundiais consecutivos (1969 a 1978) e ainda 3 títulos olímpicos (1972, 1976 e 1980). Sendo a sua especialidade a de pares, a impressão da sua qualidade sai reforçada quando se sabe que os seus títulos foram obtidos com dois pares masculinos diferentes: Alexei Ulanov, até 1972 e Alexandr Zaitsev, a partir daí.Mas com as classificações a serem atribuídas exclusivamente com base em notas de jurados*, confesso que não é o aspecto competitivo da patinagem artística que me merece mais atenção, antes a sua faceta de espectáculo. Num vídeo ainda do começo de carreira podemos apreciar Irina Rodnina a actuar e numa entrevista, ainda muito parecida com o visual que consta desta primeira fotografia (acima), de uma juventude e simplicidade desarmantes, a lembrar a Rosa Mota nos seus começos.Só que à medida que o palmarés da atleta se ia robustecendo, mais ela se tornava um activo importante da mensagem que a União Soviética pretendia transmitir para o exterior através das proezas desportivas. Já condecorada em 1972, recebeu em 1976 a Ordem de Lenine, a mais alta condecoração soviética. Ao mesmo tempo, como se vê na imagem acima, alguém se passou a ocupar da sua imagem, naquela típica estética socialista dos anos setenta, a fazer lembrar a Zita Seabra da outra encarnação.O prestígio de Irina Rodnina manteve-se após o fim da União Soviética e continua na actualidade como se comprova pela indicação pelo presidente Putin para que faça parte da Câmara Pública, uma espécie de Senado de 126 membros, criada recentemente em 2005 na Rússia. É possível que esse destaque que lhe é dado seja ajudado pelo facto dela pertencer à minoria judaica. De qualquer modo, esta terceira fotografia de Irina comprova como a globalização também já se estendeu à estética: agora ela parece igual a qualquer outra…
* Na minha opinião, por muito que existam critérios objectivos de avaliação, há sempre uma dose inultrapassável de subjectividade na nota atribuída pelo júri. É por isso que não é inverosímil a história do concurso de imitações de Charlot a que Chaplin concorreu incógnito, tendo obtido o 4º lugar…
* Na minha opinião, por muito que existam critérios objectivos de avaliação, há sempre uma dose inultrapassável de subjectividade na nota atribuída pelo júri. É por isso que não é inverosímil a história do concurso de imitações de Charlot a que Chaplin concorreu incógnito, tendo obtido o 4º lugar…