Titus Aurelius Fulvus Boionius Arrius Antoninus nasceu em 86, perto de Roma, de uma família que era originária do Sul da Gália, onde se misturariam ascendências latinas e gaulesas. Mas convém frisar que a cidade de origem da família (Nemausus, a actual Nîmes) já era romana há mais de 200 anos quando Antonino nasceu. A família devia ser muito rica e, para facilitar a carreira política do avô de Antonino, Titus Aurelius Fulvus, transferiram grande parte dos seus interesses para Itália, onde adquiriram as terras que conferiam ao proprietário a dignidade social para cargos políticos de relevo.
Deve ter sido um carácter digno de conhecer, este avô de Antonino, vindo da província. Foi eleito Cônsul* e supõe-se que se tenha tornado um dos potentados da indústria de telhas da região de Roma... A culminar a ascensão social, fez uma aliança com um dos seus colegas de Senado, Arrius Antoninus, que também singrara sob o regime dos Flávios** onde também tinha chegado a ser eleito Cônsul. O seu único filho e homónimo, Titus Aurelius Fulvus júnior, casou com a única filha de Arrius Antoninus, Arria Fadilha. Dessa união veio a nascer o futuro imperador.
O Titus Aurelius Fulvus mais novo, muito provavelmente com o patrocínio do pai e do sogro, também estava muito bem lançado numa carreira política (já havia sido eleito Cônsul em 89, quando o seu filho tinha 3 anos) quando veio a morrer inesperadamente, muito pouco tempo depois. Antonino veio a ser criado sob a supervisão dos dois avôs, as duas personalidades fortes que esta narrativa deixa antever, como neto único de dois filhos únicos***. Quase nada se sabe sobre a sua infância e juventude. Antonino – que por essa altura seria aquilo que hoje se designa por um excelente partido - ter-se-á casado entre os anos de 110 e 115.
A noiva, Annia Galeria Faustina, a antiga (para a distinguir de uma filha com o mesmo nome), era filha de um outro ex-Cônsul, Marcus Annius Verus, de fortuna arrecadada na Andaluzia na produção de azeite, e de Rupilia Faustina, outra andaluza, parente próxima do imperador Trajano. Além de prodigiosamente rico e de ser um político destacado, o jovem Antonino acabara de entrar no círculo íntimo da família imperial. Deste casamento resultaram dois filhos, um filho que acabou por morrer na infância e a filha, homónima da mãe, que veio a casar mais tarde com o imperador Marco Aurélio, o sucessor de Antonino.
O imperador Adriano sucede a Trajano em 117, e a proximidade familiar do casal ao trono aumenta, pois Faustina é sobrinha da nova imperatriz, Sabina. Mas o que se sabe da carreira de Antonino durante os 21 anos do reinado do antecessor, é que foi um percurso discreto (Cônsul, apesar de tudo, em 120...), torna difícil enquadrar a escolha subsequente de Adriano. Sem descendência, aos 60 anos, o imperador nomeou um senador, Lucius Aelius, como seu herdeiro, uma escolha que, controversa na época, nunca mais deixou de o ser – há quem defenda que esse herdeiro era filho natural de Adriano. Mas o herdeiro acabou por morrer antes do antecessor.
É como recurso que Adriano acaba por optar por Antonino, que lhe é apenas 10 anos mais novo, condicionando-lhe as escolhas dos seus sucessores (Marco Aurélio de 17 anos e Lúcio Vero de 8) – desejo que Antonino até acabou por cumprir… Menos de cinco meses depois da decisão, Adriano morria. E é sob o reinado deste imperador que o próprio antecessor considerava de transição e que acabou por se prolongar por 23 anos, que a grande maioria dos historiadores da actualidade consideram que se atingiu o apogeu do Império Romano…
O período de Antonino é o de uma prosperidade suíça, por analogia com a daquele país, onde raramente acontece algo que mereça destaque nas notícias internacionais. Factores que não se podem atribuir à boa ou má actuação dos governantes, como as perturbações nas fronteiras quase não existiram. Entre 141 e 143 houve-as na Grã-Bretanha, que deram origem, aliás, a um muro com o seu nome, situado a norte do do seu antecessor (muito mais famoso) entre 142-144, houve uma revolta no Egipto, em 145, perturbações em Marrocos e na Argélia e em 156-157 na Roménia. Pouca coisa, a comparar com os reinados anteriores, trocados, a comparar com os seguintes.
Antonino morreu em Março de 161, com 74 anos, uma idade provecta, mas não tão rara quanto isso entre as elites romanas****. As descrições pessoais são feitas de uma forma tal que se descartam automaticamente por suspeita de se tratar de panegíricos: Duma beleza marcante, tinha um carácter agradável e numerosos talentos. Aristocrata em todos os seus poros, todo o seu comportamento demonstrava uma enorme dignidade. Orador de valor, sábio emérito, proprietário esclarecido, era uma pessoa sóbria, trabalhadora amável, generosa e respeitadora dos direitos alheios. (História Augusta) A contrastar com este encadeado de elogios, apenas as informações - doutra fonte - que tinha frequentes enxaquecas e um apetite sexual notável.
Conto-me entre aqueles que, na História de Portugal, entende o cognome do rei Manuel I (O Venturoso) pela sua faceta irónica, a de alguém que calhou ser a pessoa certa e pertencer à geração certa para vir ocupar inesperadamente o lugar de destaque no período (1495-1521) que é considerado o do apogeu da História Portuguesa. Se evoco este exemplo mais familiar para os leitores é para o comparar ao de Antonino o Pio, onde penso que se tenha passado algo de muito semelhante, mas com a História de Roma. E o ensinamento que o julgamento do desempenho dos protagonistas da História não deve ser feito sem que se compreenda as circunstâncias em que o fizeram.
* Cada Cônsul (havia sempre dois) era eleito por um ano e, embora nesta época já não dispusesse de nenhum poder efectivo, ainda era considerado teoricamente o cargo supremo da hierarquia romana. Por exemplo, a legislação era promulgada em nome dos dois cônsules em exercício e não do imperador...
** Dinastia de imperadores romanos: Vespasiano (69-79), Tito (79-81) e Domiciano (81-96).
*** Embora a sua mãe tenha voltado a casar e tido uma filha.
**** Augusto morreu com 76 anos e Tibério com 78.
Deve ter sido um carácter digno de conhecer, este avô de Antonino, vindo da província. Foi eleito Cônsul* e supõe-se que se tenha tornado um dos potentados da indústria de telhas da região de Roma... A culminar a ascensão social, fez uma aliança com um dos seus colegas de Senado, Arrius Antoninus, que também singrara sob o regime dos Flávios** onde também tinha chegado a ser eleito Cônsul. O seu único filho e homónimo, Titus Aurelius Fulvus júnior, casou com a única filha de Arrius Antoninus, Arria Fadilha. Dessa união veio a nascer o futuro imperador.
O Titus Aurelius Fulvus mais novo, muito provavelmente com o patrocínio do pai e do sogro, também estava muito bem lançado numa carreira política (já havia sido eleito Cônsul em 89, quando o seu filho tinha 3 anos) quando veio a morrer inesperadamente, muito pouco tempo depois. Antonino veio a ser criado sob a supervisão dos dois avôs, as duas personalidades fortes que esta narrativa deixa antever, como neto único de dois filhos únicos***. Quase nada se sabe sobre a sua infância e juventude. Antonino – que por essa altura seria aquilo que hoje se designa por um excelente partido - ter-se-á casado entre os anos de 110 e 115.
A noiva, Annia Galeria Faustina, a antiga (para a distinguir de uma filha com o mesmo nome), era filha de um outro ex-Cônsul, Marcus Annius Verus, de fortuna arrecadada na Andaluzia na produção de azeite, e de Rupilia Faustina, outra andaluza, parente próxima do imperador Trajano. Além de prodigiosamente rico e de ser um político destacado, o jovem Antonino acabara de entrar no círculo íntimo da família imperial. Deste casamento resultaram dois filhos, um filho que acabou por morrer na infância e a filha, homónima da mãe, que veio a casar mais tarde com o imperador Marco Aurélio, o sucessor de Antonino.
O imperador Adriano sucede a Trajano em 117, e a proximidade familiar do casal ao trono aumenta, pois Faustina é sobrinha da nova imperatriz, Sabina. Mas o que se sabe da carreira de Antonino durante os 21 anos do reinado do antecessor, é que foi um percurso discreto (Cônsul, apesar de tudo, em 120...), torna difícil enquadrar a escolha subsequente de Adriano. Sem descendência, aos 60 anos, o imperador nomeou um senador, Lucius Aelius, como seu herdeiro, uma escolha que, controversa na época, nunca mais deixou de o ser – há quem defenda que esse herdeiro era filho natural de Adriano. Mas o herdeiro acabou por morrer antes do antecessor.
É como recurso que Adriano acaba por optar por Antonino, que lhe é apenas 10 anos mais novo, condicionando-lhe as escolhas dos seus sucessores (Marco Aurélio de 17 anos e Lúcio Vero de 8) – desejo que Antonino até acabou por cumprir… Menos de cinco meses depois da decisão, Adriano morria. E é sob o reinado deste imperador que o próprio antecessor considerava de transição e que acabou por se prolongar por 23 anos, que a grande maioria dos historiadores da actualidade consideram que se atingiu o apogeu do Império Romano…
O período de Antonino é o de uma prosperidade suíça, por analogia com a daquele país, onde raramente acontece algo que mereça destaque nas notícias internacionais. Factores que não se podem atribuir à boa ou má actuação dos governantes, como as perturbações nas fronteiras quase não existiram. Entre 141 e 143 houve-as na Grã-Bretanha, que deram origem, aliás, a um muro com o seu nome, situado a norte do do seu antecessor (muito mais famoso) entre 142-144, houve uma revolta no Egipto, em 145, perturbações em Marrocos e na Argélia e em 156-157 na Roménia. Pouca coisa, a comparar com os reinados anteriores, trocados, a comparar com os seguintes.
Antonino morreu em Março de 161, com 74 anos, uma idade provecta, mas não tão rara quanto isso entre as elites romanas****. As descrições pessoais são feitas de uma forma tal que se descartam automaticamente por suspeita de se tratar de panegíricos: Duma beleza marcante, tinha um carácter agradável e numerosos talentos. Aristocrata em todos os seus poros, todo o seu comportamento demonstrava uma enorme dignidade. Orador de valor, sábio emérito, proprietário esclarecido, era uma pessoa sóbria, trabalhadora amável, generosa e respeitadora dos direitos alheios. (História Augusta) A contrastar com este encadeado de elogios, apenas as informações - doutra fonte - que tinha frequentes enxaquecas e um apetite sexual notável.
Conto-me entre aqueles que, na História de Portugal, entende o cognome do rei Manuel I (O Venturoso) pela sua faceta irónica, a de alguém que calhou ser a pessoa certa e pertencer à geração certa para vir ocupar inesperadamente o lugar de destaque no período (1495-1521) que é considerado o do apogeu da História Portuguesa. Se evoco este exemplo mais familiar para os leitores é para o comparar ao de Antonino o Pio, onde penso que se tenha passado algo de muito semelhante, mas com a História de Roma. E o ensinamento que o julgamento do desempenho dos protagonistas da História não deve ser feito sem que se compreenda as circunstâncias em que o fizeram.
* Cada Cônsul (havia sempre dois) era eleito por um ano e, embora nesta época já não dispusesse de nenhum poder efectivo, ainda era considerado teoricamente o cargo supremo da hierarquia romana. Por exemplo, a legislação era promulgada em nome dos dois cônsules em exercício e não do imperador...
** Dinastia de imperadores romanos: Vespasiano (69-79), Tito (79-81) e Domiciano (81-96).
*** Embora a sua mãe tenha voltado a casar e tido uma filha.
**** Augusto morreu com 76 anos e Tibério com 78.
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