Outro dia, a programação da RTP Memória teve o condão de me fazer recuar umas três ou quatro décadas, inesperada e deliciosamente, ao transmitir uma daquelas peças de teatro clássico (ou menos clássico), mas sempre com uma encenação mais moderna e arrojada em que, nunca soube porquê, havia sempre coros, e estes passavam uma boa parte do tempo da peça a uivar ou a emitir outros sons guturais.
Ainda se estava numa uma época em que se podia dizer convicta e seriamente que o público para assistir aquelas coisas tinha de ser criado, estimulado, formado, e isso leva tempo (…), como viria a escrever mais de 35 anos depois, mas já sem pertinência nem oportunidade, João Fiadeiro, a respeito dos ocupantes e da ocupação do teatro Rivoli no Porto. E uma boa parte das peças escolhidas na época revelavam-se uma seca…
Estava-se na primavera marcelista, havia alguma abertura relativa mas não completa liberdade de escolha de autores e, por isso, o recurso aos clássicos da Antiguidade seria, provavelmente uma solução incontroversa e fácil de rebater se houvesse objecções da censura. Limitados assim na escolha dos textos, sublimava-se toda a modernidade possível em todos os outros aspectos da peça: cenografia, direcção de actores, etc.
Tradicionalmente nenhum actor falava naturalmente, mas proferia sempre as-suas-linhas-com-um-sopro-em-que-se-declama-depressa-onde-se-chega-ao-fim-da-frase-já-quase-sem-ar… Os cenários eram forretas de tão sóbrios, de uma sobriedade espartana, mesmo que a peça se passasse em Atenas… Os coros uivavam ou emitiam os tais sons guturais, e outros sons adicionais tinham de provir de instrumentos musicais insólitos, como gongos…
Claro que, nos serões onde essas referências do teatro televisivo iam para o ar, a RTP prestava o serviço público – naquela época a RTP prestava sempre serviço público… - de acabar por forçar as famílias a desligarem o televisor por aquela noite e a recuperarem as memórias de um saudável convívio familiar. Já na época se adivinhavam traços de um povo refractário a ser um público criado, estimulado e formado, mesmo que houvesse todo o tempo do mundo…
Ainda se estava numa uma época em que se podia dizer convicta e seriamente que o público para assistir aquelas coisas tinha de ser criado, estimulado, formado, e isso leva tempo (…), como viria a escrever mais de 35 anos depois, mas já sem pertinência nem oportunidade, João Fiadeiro, a respeito dos ocupantes e da ocupação do teatro Rivoli no Porto. E uma boa parte das peças escolhidas na época revelavam-se uma seca…
Estava-se na primavera marcelista, havia alguma abertura relativa mas não completa liberdade de escolha de autores e, por isso, o recurso aos clássicos da Antiguidade seria, provavelmente uma solução incontroversa e fácil de rebater se houvesse objecções da censura. Limitados assim na escolha dos textos, sublimava-se toda a modernidade possível em todos os outros aspectos da peça: cenografia, direcção de actores, etc.
Tradicionalmente nenhum actor falava naturalmente, mas proferia sempre as-suas-linhas-com-um-sopro-em-que-se-declama-depressa-onde-se-chega-ao-fim-da-frase-já-quase-sem-ar… Os cenários eram forretas de tão sóbrios, de uma sobriedade espartana, mesmo que a peça se passasse em Atenas… Os coros uivavam ou emitiam os tais sons guturais, e outros sons adicionais tinham de provir de instrumentos musicais insólitos, como gongos…
Claro que, nos serões onde essas referências do teatro televisivo iam para o ar, a RTP prestava o serviço público – naquela época a RTP prestava sempre serviço público… - de acabar por forçar as famílias a desligarem o televisor por aquela noite e a recuperarem as memórias de um saudável convívio familiar. Já na época se adivinhavam traços de um povo refractário a ser um público criado, estimulado e formado, mesmo que houvesse todo o tempo do mundo…
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