Este poste começa por um problema descrito aqui há uns tempos por um colega de blogosfera num seu poste, que assinalava – e se queixava, a justo título – de um restaurante na região de Lagos – não estava muito mais identificado que isso – onde o menu e a empregada não usavam outra língua que não o inglês. O cliente e autor do poste bem refilou, mas nada feito, que a mocinha não era dada à língua de Camões; nem o era o dono, entretanto aparecido, aliás. E o pedido lá acabou por ser feito num inglês muito sofrível, de que o autor do blogue se confessava, honestamente, um mau praticante. E ali estava ele a narrar, no seu blogue, um incidente tão aborrecido como são permissivas as coisas em Portugal, vejam lá!...
Assumindo as penas do narrador, perguntei-lhe porque não tinha abandonado ostensivamente o estabelecimento ou não tinha usado o seu inglês de escola para pedir o Livro de Reclamações. Que não, essas atitudes teriam incomodado as senhoras que o acompanhavam – ser obrigado a falar inglês num restaurante português não incomoda nada, apenas motiva a escrever postes… – mas que iria tratar do problema, escrevendo uma carta ao director de um jornal, denunciando aquela situação. E lá apareceu ela, a tal carta acusadora na denúncia de uma enorme ilegalidade, mas omissa quanto à identificação precisa do local.
Tê-lo-ia desiludido informá-lo que, não falando português, seria muito improvável que o dono do restaurante tivesse o hábito de comprar jornais portugueses de grande circulação? E, embora a história seja antiga, suspeito que, se entretanto o dono não tiver regressado para a sua terra, o restaurante ainda lá esteja com os mesmos hábitos, quem não gosta vá-se embora, que isso de nos queixarmos para o multar ou fechar por ter uma prática absolutamente ilegal é chato…E assim foi o problema tratado, que a sua resolução pertencerá ao que vier a seguir.
Quem ouvir a actual discussão à volta da legislação de João Cravinho contra a corrupção e nada soubesse do assunto ainda pressuporia que ela viria colmatar uma enorme lacuna legislativa que existiria nesse aspecto na ordem jurídica portuguesa. O que suspeito que não deva ser bem verdade. Mesmo a que já existia no tempo em que Cravinho foi ministro das Obras Públicas ter-lhe-ia permitido fazer outra coisa do que apenas tratar do problema da corrupção na Junta Autónoma das Estradas que o general Garcia dos Santos lhe pôs em cima da secretária…
Será sociologicamente genético da nossa parte confundir tratamento com resolução? É que – vem a propósito dado o preâmbulo – em inglês a palavra tratamento (treatment) aplica-se a doenças ou a uma qualquer informação enquanto os problemas só deixam de o ser quando são resolvidos (solved). Mas entre nós é coisa comum confundirmos os dois conceitos e consideramos os formalismos – a carta ao director ou os retoques da legislação que Cravinho agora propõe – como a própria solução. Ora, assim expresso, é evidente que nem a carta ao director afectou as regras de funcionamento do restaurante, nem, por agora, a legislação proposta por Cravinho influi no verdadeiro combate à corrupção…
Assumindo as penas do narrador, perguntei-lhe porque não tinha abandonado ostensivamente o estabelecimento ou não tinha usado o seu inglês de escola para pedir o Livro de Reclamações. Que não, essas atitudes teriam incomodado as senhoras que o acompanhavam – ser obrigado a falar inglês num restaurante português não incomoda nada, apenas motiva a escrever postes… – mas que iria tratar do problema, escrevendo uma carta ao director de um jornal, denunciando aquela situação. E lá apareceu ela, a tal carta acusadora na denúncia de uma enorme ilegalidade, mas omissa quanto à identificação precisa do local.
Tê-lo-ia desiludido informá-lo que, não falando português, seria muito improvável que o dono do restaurante tivesse o hábito de comprar jornais portugueses de grande circulação? E, embora a história seja antiga, suspeito que, se entretanto o dono não tiver regressado para a sua terra, o restaurante ainda lá esteja com os mesmos hábitos, quem não gosta vá-se embora, que isso de nos queixarmos para o multar ou fechar por ter uma prática absolutamente ilegal é chato…E assim foi o problema tratado, que a sua resolução pertencerá ao que vier a seguir.
Quem ouvir a actual discussão à volta da legislação de João Cravinho contra a corrupção e nada soubesse do assunto ainda pressuporia que ela viria colmatar uma enorme lacuna legislativa que existiria nesse aspecto na ordem jurídica portuguesa. O que suspeito que não deva ser bem verdade. Mesmo a que já existia no tempo em que Cravinho foi ministro das Obras Públicas ter-lhe-ia permitido fazer outra coisa do que apenas tratar do problema da corrupção na Junta Autónoma das Estradas que o general Garcia dos Santos lhe pôs em cima da secretária…
Será sociologicamente genético da nossa parte confundir tratamento com resolução? É que – vem a propósito dado o preâmbulo – em inglês a palavra tratamento (treatment) aplica-se a doenças ou a uma qualquer informação enquanto os problemas só deixam de o ser quando são resolvidos (solved). Mas entre nós é coisa comum confundirmos os dois conceitos e consideramos os formalismos – a carta ao director ou os retoques da legislação que Cravinho agora propõe – como a própria solução. Ora, assim expresso, é evidente que nem a carta ao director afectou as regras de funcionamento do restaurante, nem, por agora, a legislação proposta por Cravinho influi no verdadeiro combate à corrupção…
O resto é conversa de chacha e fazer agora de João Cravinho um paladino desse combate é um requinte situado uns furos ainda mais abaixo nessa conversa!...
O blogue "magra-carta" aborda este assunto de forma muito interessante também...
ResponderEliminarÉ extraordinária a facilidade com que se constroem fábulas (ligeiramente diferentes da de "Esopo ou béu béu"...)!
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