
Falando especialmente sobre germanos e romanos, as relações que melhor conhece das suas pesquisas arqueológicas na Alemanha, Peter S. Wells delas extrai que não haveria uma diferença significativa nos padrões de vida de quem vivia de um e doutro lado da fronteira durante o período romano. Por consequência, e mesmo que o livro não cubra o período da queda do Império Romano no Ocidente, deduz-se que em todo esse processo histórico, não houve um significativo retrocesso civilizacional, apenas transformações profundas nas estruturas políticas com as naturais convulsões a elas associadas.
Predominante nos últimos anos do século XX, com esta tese creio que se terá ido longe demais na intenção de minorar as diferenças nos graus de desenvolvimento civilizacional dos antepassados dos povos europeus que hoje compõem a União Europeia. Por muito bizarro que hoje pareça, há 1800 anos quem vivia na Itália, Grécia, Espanha ou Portugal era, em média, muito mais sofisticado do que os rústicos da Alemanha, da Dinamarca ou da Suécia… Embora também acredite que esta realidade histórica tenha uma boa parcela de inconveniência política. Que a versão histórica mais simpática à integração europeia seja aqui protagonizada por um arqueólogo norte-americano é só um detalhe irónico…

Essencialmente Ward-Perkins recupera a tese que os bárbaros escaqueiraram o Império Romano, apossando-se dos territórios conquistados e, na sua rusticidade, isolaram-nos dos vastos circuitos comerciais que, envolvendo as diversas terras sob o domínio de Roma, haviam feito a prosperidade do mundo mediterrânico e suas redondezas nos séculos anteriores. Frontalmente contra as teses da Casa Comum Europeia desde a Antiguidade, esta tese também está carregada de (uma outra) ideologia ao confrontar-nos com aquilo que apresenta como as consequências do isolamento de cada região (país) e da desagregação do que retrata como o mundo globalizado da civilização romana. Enfim, é uma outra maneira de falar dos benefícios da globalização...

* Falam os bárbaros. ** Já publicado (ainda bem) na versão portuguesa em 2006 pela Alêtheia: A Queda de Roma e o Fim da Civilização. *** Os romanos passando sob o jugo.
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