21 janeiro 2007

O HUMOR GLOBALIZADO?

Para quem se lembre, no filme Lost in Translation*, um dos momentos mais penosos para Bill Murray foi o da sua presença num programa humorístico japonês. Embora já me tenha apercebido que os japoneses podem ter divertimentos bizarros, não conheço outros programas humorísticos seus para poder aferir que parte do tal programa ficcionado de TV onde Murray compareceu seria credível e que parte seria propositadamente caricatural.

Já posso contudo especular quanto as expressões de Murray não seriam muito diferentes das daquele programa, se ele fosse hipoteticamente convidado a aparecer, acompanhado de intérprete, no concurso da RTP O Preço Certo apresentado por Fernando Mendes, um ícone do genuíno humor português, ou mesmo naquela paródia ao concurso feita recentemente pelos Gato Fedorento. Mas, em contrapartida, fica-me a suspeita que poucas gargalhadas genuínas daquela assistência se ouviriam se Jerry Seinfeld lá fosse actuar… mesmo de tradutor ao lado.

* Já me ocorreu que a tradução do título do filme para a versão portuguesa (O Amor é um Lugar Estranho) contivesse, ela mesma, uma espécie de mensagem cabalística do que representa, em concreto, falhar completamente uma tradução.

2 comentários:

  1. Cada um no seu lugar.
    Fernando Mendes, por natureza (espírito e físico) é um ícone da revista, da laracha barata que até pode ter piada quando vista e ouvida no seu contexto próprio.
    A animar uma emissão daquele tipo só concorre para baixar (mais ainda) o nível.
    É tão mau como o Marco Paulo quando este tinha a sua emissão na qual entrevistava ilustres convidados, fazendo perguntas que lia num papelinho que escondia (como podia) na palma da mãozinha marota com que, a seguir, brincava com o microfone, "jongleur" de circo de Inverno.
    Às vezes não é erro de tradução, mas de escolha, de selecção, de "casting", como é fino dizer...

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  2. O meu ponto é precisamente esse, Paciente: cada um no seu lugar! Podemos julgar bizarro o divertimento de um japonês de cabelo pintado e que não percebemos nada do que diz, mas também podemos imaginar o efeito que um gorducho baixote risonho (Mendes), mesmo acompanhado das coqueluches da comédia nacional do momento, causaria em estrangeiros que não entendessem nada do que se dissesse… E o mesmo se aplica reciprocamente às vedetas da comédia norte-americana, se se perder a capacidade de entender o que dizem…

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