Quem gosta das datas da História, deve ter fixado que o fim da Antiguidade e o inicio da Idade Média se deu em 476, quando da deposição do último imperador do Ocidente, com o fim do domínio romano, enquanto que em 1453, a queda de Constantinopla perante os turcos provocou o fim do Império Romano do Oriente que marcou o fim da Idade Média e o inicio do Renascimento.
Para eles, será uma surpresa que depois de 476 ainda perdurou no Ocidente, no norte da França para ser mais preciso, um estado que os historiadores intitulam por Domínio de Soissons que, dirigido pelo Dux Syagrius, era o último vestígio de território que ainda se reclamava do estatuto de província romana com a capital na cidade do mesmo nome. Clóvis, rei dos francos, derrotou Syagrius em 486, dez anos depois da data mítica e tranformou a cidade na capital do seu reino, o embrião do futuro estado francês.
Poderá ter uma outra surpresa ao descobrir que, mesmo depois da conquista de Constantinopla pelos turcos e da morte em combate de Constantino XI em 1453, os imperadores João IV Comnenos (1429-59) e David Comnenos (1459-61) ainda continuaram a fazer viver o ideal do velho Império Romano de religião ortodoxa e cultura grega na cidade de Trebizonda (actual Trabzon) na costa nordeste da Turquia, sede do Império do mesmo nome. Os turcos acabaram com este duplicado oriental de Constantinopla em 1461.
Ignorava completamente a existência de tal reino no tempo dos francos.Já tinha conhecimento do resistente Império de Trebizonda, que na antiguidade era uma importante colónia grega e que hoje é uma mediana cidade turca. Mas creio que ao Império Bizantino também sobreviveu, por pouco tempo, um reino no Epiro, que deve ter sido mais tarde anexado por turcos ou venezianos.
ResponderEliminarÉ sempre com grande gosto que debato estes assuntos com quem assim mostra apreciá-los.
ResponderEliminarA ideia principal do poste era apenas realçar que depois das datas fatídicas (476 e 1453) ainda havia territórios que se orientariam pelo projecto ideológico que fora derrubado, embora por pouco tempo.
Como exemplos de 1453, poderia ter escolhido o caso dos estados do Epiro que mencionou ou o de Trebizonda, que preferi por 2 razões:
a) Por ter um "Imperador" desde 1204, pretendo-se herdeiro dos imperadores originais, expulsos de Constantinopla pelos cruzados quando a conquistaram
b) Pela localização geográfica insólita, muito mais a oriente do que Constantinopla.
Quanto a 476, talvez o surpreenda dizer que havia também duas hipóteses. Além do Norte de França do Dux Syagrius, também havia as terras da Dalmácia que obedeceram até 480 ao imperador Julius Nepos que havia sido deposto em Itália.
Neste caso, esqueci a questão do título imperial e optei pela duração temporal e (outra vez) pela localização geográfica insólita.