26 abril 2007

A CAMINHO DA GLOBALIZAÇÃO NA RESTAURAÇÃO

De acordo com as classificações do Guia Michelin, de entre os 50 melhores restaurantes da Europa (classificados com três estrelas), mais de metade (26) são franceses e, desses, mais de metade (14) ficam em Paris. É o tipo de distribuição que está para a França, como os antigos Colégios de Cardeais estavam para a Itália: por isso é que era tradicional os Papas fossem sempre italianos…Se até o Vaticano se está reformar nesse aspecto, com papas polacos e alemães, porque não a organização por detrás do Guia Michelin? Provavelmente porque há mistérios que são mais misteriosos que os Mistérios da Fé...

Por muito que reconheça as qualidades da gastronomia francesa, confesso que estarei a pensar em outros atributos do carácter dos seus nacionais quando eles publicam, sem aparente sombra de embaraço, um guia onde se conclui que 28% dos melhores restaurantes do continente se concentram numa região onde reside 1,5% da população europeia… Até parece que as papilas gustativas do ser humano perdem a sua funcionalidade quando se abandona o hexágono… Enfim, de tão imodestas, estas classificações do Guia Michelin sempre foram ridículas.

Será para concorrer com aquele Guia disparatado que uma revista britânica Restaurant Magazine publica uma lista sua dos 50 Melhores Restaurantes do Mundo. Na distribuição dos 50 nomeados por nacionalidades, a França aparece a liderar, merecidamente, com 13 (mesmo assim, um número inferior aos que o Guia Michelin elegeu, só em Paris!), oito norte-americanos, sete britânicos, seis espanhóis e igual número de italianos, dois australianos e um da África do Sul, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Índia e Suécia.
Por curiosidade, como esta lista é ordenada, ela é encabeçada por um restaurante catalão, seguido de um britânico e de um francês. Mas repare-se como ela é, apesar de menos escabrosa que a anterior, completamente ocidentalizada: pela coincidência da existência condescendente de um restaurante na lista por cada continente marginal (Brasil – 1, Índia – 1, África do Sul – 1) ou pela omissão (gritante) da riquíssima tradição culinária oriental. Aliás, cereja no bolo da prova desse ocidentalismo faccioso é a presença na lista em honroso 7º lugar de um restaurante na Austrália que se chama… Tetsuya (e é japonês).

Em suma, fazem-se progressos, abandonam-se as classificações escabrosamente chauvinistas, que só se mantêm por inércia e falta de verdadeiro espirito crítico dos destinatários de tal tipo de publicações, mas creio que há ainda muito que palmilhar até à verdadeira globalização do bom gosto na cozinha…

2 comentários:

  1. O “Guia Michelin” é uma espécie de “Beaujolais”: só pode ser francês! O “Guia Pirelli” ou o “Guia Goodyear” não aparecem nas livrarias...

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  2. Cada coisa com cada país!

    O "Beaujolais" também não patrocina um livro de recordes absurdos como a "Guiness"...

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