02 abril 2007

RELAÇÕES PÚBLICAS MILITARES

A minha história inicial fará brevemente 30 anos e está associada a um artigo que o Borbon, à época director do jornal O Colégio Militar, escreveu a respeito da viagem de finalistas que o seu curso realizara à Madeira. A história era banal e eu provavelmente já a teria esquecido há muito, não fosse uma passagem em que considero que o Borbon se terá excedido nas cores rosadas com que enfeitou o seu artigo...

A páginas tantas, descrevendo as visitas aos locais pitorescos da ilha, referia que o meio de transporte havia sido umas confortáveis (sic) Berliets… Ora, para esclarecimento dos leigos, a Berliet é esta viatura de transporte representada abaixo, a que uma geração de portugueses que cumpriu o serviço militar se aprendeu a afeiçoar (era a viatura de transporte de tropas regulamentar do exército português) mas por virtudes outras que não o conforto… É um veículo em que se acredita que há uma suspensão traseira porque foi superiormente determinado que existe...
Nunca entendi bem a explicação do Borbon para o emprego despropositado daquele adjectivo, para mais nele, que não era mesmo nada dado a ironias ferozes… Aliás, na viagem de curso de finalistas do ano seguinte, à mesma ilha da Madeira, já se dispensou o conforto das Berliets pela inconveniência de viaturas de transporte de passageiros mais convencionais. Perdeu-se foi a emoção com que se atravessavam os túneis das estradas madeirenses (onde estava sempre a chover)...

Esta incongruência aparente do gesto de tratar assuntos militares embelezando os factos com um estilo rococó, quando, entre os militares, a franqueza e a rusticidade são tradicionalmente, virtudes, veio-me recentemente à memória através da leitura das declarações de um encarregado das relações públicas do exército, constantes da notícia de um exercício militar (Relâmpago 07) envolvendo o sistema de mísseis terra-ar Chaparral (abaixo).
Honesta e simplificadamente, os quatro mísseis usados naquele exercício acertaram em Ø (zero) alvos (e eram oito...), uma insucesso total, conforme se pode ler nas referida notícia, um verdadeiro fiasco do c......, na genuína linguagem castrense. Contudo, segundo também se pode ler nessas notícias, Hélder Perdigão, o tal porta-voz, também disse que (sic) Os mísseis não atingiram o alvo, mas isto é um pormenorzinho de um exercício que envolveu muita coordenação com muitas unidades. Registe-se o detalhe do uso do diminutivo – pormenorzinho

Ora, salvo melhor opinião, o capital à disposição de qualquer responsável por relações públicas é o da credibilidade e, se o perder, perder-se-á a razão da sua existência. Assim, para além de se deixar de usar diminutivos de Amélia*, o que o bom do Hélder Perdigão tinha a fazer de melhor no seu comunicado era transcrever a opinião genuína original expressa, ao vivo e logo a quente, pelo oficial que dirigiu o exercício, o coronel Vieira Borges – mas devidamente expurgada dos palavrões que ela provavelmente continha…
* maricas

3 comentários:

  1. :) Post muito divertido.
    Uma pergunta, se me permite. Tem por acaso as regras publicadas no Jornal de Exército para batalhas com soldados da escala HO?
    Obrigado e um abraço

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  2. Não tenho. Quando preciso de consultar números antigos do Jornal do Exército uso a hemeroteca da CML:

    http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Contactos.htm

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  3. Muito bem observado!
    Creio que teria sido mais fácil, para o porta-voz, declarar:
    - Os mísseis cumpriram a sua missão! Os alvos é que não quiseram colaborar...

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