É uma pena que apenas exista o filme Capitães de Abril, realizado em 1999 por Maria de Medeiros para servir de evocação cinematográfica da revolução de há 32 anos. É que o filme, mau grado o ribombar exuberante das campanhas de marketing e de promoção na altura do lançamento, da participação de Joaquim de Almeida, da co-produção internacional, da música dos Madredeus e das críticas quase unanimemente favoráveis é mesmo fraco, muito fraquinho…
Um dos seus maiores problemas – que o tempo poderá curar – repousa no facto de que parte da audiência conheceu e ainda pode recordar, de uma forma ou outra, como se passaram as coisas no original. Há naquele filme personagens – a criada, um exemplo, de memória – que sociologicamente pura e simplesmente não existiam no Portugal do primeiro terço dos anos setenta.
Em termos militares, o argumento parece nem ter sido revisto por alguém que tenha sequer feito o serviço militar e as gaffes estrondosas sucedem-se: qualquer oficial teria uma grande relutância em usar uma G-3, que é uma arma de soldado, também não faria qualquer sentido dar a patente de major (como superior hierárquico) ao personagem cínico que acompanha o protagonista…
Mas as melhores demonstrações de cinismo, recordo, estiveram reservadas para um debate televisivo a propósito do filme, que decorreu na RTP1, moderado por Maria Elisa, em que foi evidente, dada a presença da realizadora, o pudor dos vários convidados em emitir as suas opiniões, honestamente, sobre o que pensavam do filme. A velha pecha portuguesa: usamos o pretexto da boa educação para escondermos a nossa falta de frontalidade…
Curiosamente, quase em simultâneo, suponho que no mesmo ano, a SIC apresentou um documentário excelente sobre o mesmo tema, denominado A Hora da Liberdade. Aí, apesar do lapso de se ter filmado um 25 de Abril solarengo – os testemunhos são unânimes em que o dia esteve sempre nublado – o mérito de um excelente trabalho de actores, fez-nos aparecer um Salgueiro Maia, um Otelo, um Marcello Caetano e mesmo um Spínola um pouco histriónico, mas absolutamente credíveis.
Capitães de Abril vai passar na RTP1 às 17H30. Não recomendo. A SIC bem podia reapresentar o seu documentário, em vez do Beethoven II e do Sozinho em Casa XIV.
Um dos seus maiores problemas – que o tempo poderá curar – repousa no facto de que parte da audiência conheceu e ainda pode recordar, de uma forma ou outra, como se passaram as coisas no original. Há naquele filme personagens – a criada, um exemplo, de memória – que sociologicamente pura e simplesmente não existiam no Portugal do primeiro terço dos anos setenta.
Em termos militares, o argumento parece nem ter sido revisto por alguém que tenha sequer feito o serviço militar e as gaffes estrondosas sucedem-se: qualquer oficial teria uma grande relutância em usar uma G-3, que é uma arma de soldado, também não faria qualquer sentido dar a patente de major (como superior hierárquico) ao personagem cínico que acompanha o protagonista…
Mas as melhores demonstrações de cinismo, recordo, estiveram reservadas para um debate televisivo a propósito do filme, que decorreu na RTP1, moderado por Maria Elisa, em que foi evidente, dada a presença da realizadora, o pudor dos vários convidados em emitir as suas opiniões, honestamente, sobre o que pensavam do filme. A velha pecha portuguesa: usamos o pretexto da boa educação para escondermos a nossa falta de frontalidade…
Curiosamente, quase em simultâneo, suponho que no mesmo ano, a SIC apresentou um documentário excelente sobre o mesmo tema, denominado A Hora da Liberdade. Aí, apesar do lapso de se ter filmado um 25 de Abril solarengo – os testemunhos são unânimes em que o dia esteve sempre nublado – o mérito de um excelente trabalho de actores, fez-nos aparecer um Salgueiro Maia, um Otelo, um Marcello Caetano e mesmo um Spínola um pouco histriónico, mas absolutamente credíveis.
Capitães de Abril vai passar na RTP1 às 17H30. Não recomendo. A SIC bem podia reapresentar o seu documentário, em vez do Beethoven II e do Sozinho em Casa XIV.
Estou plenamente de acordo. O filme, por muito boas que sejam as intenções, é bacoco, na reprodução de conversas e de posicionamentos ideológicos de esquerda burguesa e afrancesada, por parte de estratos sociais como criadas e soldados. Dá-se uma imagem de um Portugal politizado que só existia numa franja minoritária da população. O filme é mau.
ResponderEliminarO meu aplauso, caro A. Teixeira. Vivi o "25 de Abril" (era oficial miliciano do Exército) e tenho a mesma opinião - sobre o filme e o documentário.
ResponderEliminarÉ sempre reconfortante ler palavras de concórdia, para mais quando, no caso de Torquato da Luz, nos levam alguma vantagem de maturidade por altura dos acontecimentos.
ResponderEliminarDeixe-me também aproveitar esta sua "visita" para o felicitar pelo seu "Ofício Diário". Escreve poemas que muito aprecio.