06 abril 2006

O PINGUINHAS

Nos idos tempos do fascismo, para empregar uma expressão dos idos tempos do PREC, Raul Solnado tinha uma rábula numa revista do Parque Mayer, em que passava por um bêbado simplório, o Pinguinhas, que comentava a situação política com a latitude que a censura, mas também a (fraca) sofisticação da audiência daquela época permitiam.

A rábula terminava com uma música, cantada – declamada, é o verbo mais apropriado no caso das músicas interpretadas por Solnado – pelo Pinguinhas que terminava, salvo erro com estes versos: que há muita coisa para aí que a gente não percebe.

Entre os bêbados pretensamente simplórios de há 40 anos e a actualidade a diferença é imensa, mas continua a haver muita coisa para aí que a gente não percebe. Uma delas é a forma como é constituído uma coisa designada por Índice de Confiança.

Deve ser algo importante, porque serviu de notícia de abertura dos telejornais das 20H00 de ontem, tanto da SIC, como da TVI – mas não nos precipitemos. Eu sei, por exemplo, a forma como se calcula a variação do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), embora a fórmula pela qual é calculado possa variar ao longo do tempo.

Contudo, quando se apresentam nas televisões os valores da inflação, refinando a apresentação da notícia com a menção da inflação homóloga, o pivot que a noticia demonstra, normalmente, um grau de compreensão daquilo que está a transmitir idêntico ao de uma catatua do Amazonas.

Suspeito que o mesmo se passe em relação ao tal Índice de Confiança dos portugueses. Nunca tive oportunidade que me explicassem se era obtido por sondagem aleatória ou por amostra, ou por consulta de um painel fixo. Serão talvez preciosismos meus…

Sei que há um que mede a confiança dos consumidores – o povo – e outro mede a confiança dos empresários – a elite. E que ontem, apareceu como fresca e importante, nos dois canais mencionados, a notícia que, em Março, a confiança do povo tinha subido e a da elite tinha baixado.

Nem falando da surpresa de ouvir como nova uma notícia que escutara havia uns três ou quatro dias, quero apontar a coincidência de ela ter sido solta, e aproveitada, num dia em que a maralha estava, naquela hora, amarrada à RTP a ver o Benfica…

Desconfio que estas, nem mesmo sóbrio, o Pinguinhas perceberia... Ou então, até perceberia bem demais...

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