Desconfio que há temas que vêm em revoadas, como pássaros. Ainda ontem dei em iniciar-me nas expressões corriqueiras absurdas do português, e já hoje estou de regresso ao mesmo tema.
A expressão em questão é a tecnocrática janela de oportunidade, traduzida directa e limitadamente do inglês, dada a diferença da amplitude dos conceitos, mais lata em inglês (window), mais estrita em português (janela).
Na nossa língua, pouco mais se pode fazer à janela do que contemplar a paisagem e, por isso, quanto à substância, as oportunidades que ali ocorrem acabam por soar a metáfora bizarra. Contudo, quanto à sonoridade, é indiscutível a associação da expressão ao dinamismo e à eficiência.
Há ocasiões em que a tal janela de oportunidade se encontra aberta, outras em que se encontra encerrada. Esta segunda hipótese, é o que me parece acontecer em França, onde o presidente Chirac se propôs pedir aos legisladores uma versão mais moderada do agora famoso CPE (Contrato Primeiro Emprego).
Quem assim se pretende armar em mediador tem que incutir respeito para poder ser aceite como tal pelas duas partes, o que comprovadamente não acontece. De uma forma óbvia, da parte dos manifestantes, de uma forma mais dissimulada, por parte do primeiro-ministro e do governo.
A V República francesa foi concebida por de Gaulle para funcionar com um de Gaulle, ou alguém com um ego como o de de Gaulle – Mitterrand, por exemplo… - na presidência. E não funciona com uma figurinha como Chirac no cargo. Que nos fique de consolo que nem só a nós acontece dar topadas em pedras nas eleições presidenciais.
Outra janela que há muito se cerrou, agora à compreensão internacional, foi a dos problemas que os norte-americanos atravessam no Iraque. Bem pode Condoleezza Rice admitir agora, em visita ao Reino Unido, que os Estados Unidos cometeram milhares de erros tácticos no Iraque.
Considero que a questão principal em disputa nunca esteve nos erros tácticos, muito menos na sua quantidade, antes no clamoroso erro de avaliação feito pelos Estados Unidos quanto à sua liberdade de actuação estratégica quando decidiram intervir militarmente no Iraque. A questão da necessidade do robustecimento da Aliança que os Estados Unidos precisariam de montar para apoiar a invasão não seria uma questão militar - aí os norte-americanos não têm qualquer problema - mas sim política. E a coligação de médias potências deixadas para trás é demasiado extensa, mesmo para o arcaboiço norte-americano.
Suspeito que a confissão de Rice já nada vai mudar para um desenlace que cada vez mais se antecipa: os Estados Unidos retiram militarmente do Iraque por detrás de um nevoeiro congratulatório do êxito da missão cumprida – destinado sobretudo à sua opinião pública doméstica.
Mas, por muito desfasados e desenquadrados que estes episódios por parte de Chirac e de Rice, não quero deixar de recordar o episódio mais ridículo dos tempos modernos, quando a tal janela de oportunidade já estaria até provavelmente murada – quando João Paulo II reconheceu que a inquisição se havia excedido no episódio de Galileu, 450 anos atrás…
A expressão em questão é a tecnocrática janela de oportunidade, traduzida directa e limitadamente do inglês, dada a diferença da amplitude dos conceitos, mais lata em inglês (window), mais estrita em português (janela).
Na nossa língua, pouco mais se pode fazer à janela do que contemplar a paisagem e, por isso, quanto à substância, as oportunidades que ali ocorrem acabam por soar a metáfora bizarra. Contudo, quanto à sonoridade, é indiscutível a associação da expressão ao dinamismo e à eficiência.
Há ocasiões em que a tal janela de oportunidade se encontra aberta, outras em que se encontra encerrada. Esta segunda hipótese, é o que me parece acontecer em França, onde o presidente Chirac se propôs pedir aos legisladores uma versão mais moderada do agora famoso CPE (Contrato Primeiro Emprego).
Quem assim se pretende armar em mediador tem que incutir respeito para poder ser aceite como tal pelas duas partes, o que comprovadamente não acontece. De uma forma óbvia, da parte dos manifestantes, de uma forma mais dissimulada, por parte do primeiro-ministro e do governo.
A V República francesa foi concebida por de Gaulle para funcionar com um de Gaulle, ou alguém com um ego como o de de Gaulle – Mitterrand, por exemplo… - na presidência. E não funciona com uma figurinha como Chirac no cargo. Que nos fique de consolo que nem só a nós acontece dar topadas em pedras nas eleições presidenciais.
Outra janela que há muito se cerrou, agora à compreensão internacional, foi a dos problemas que os norte-americanos atravessam no Iraque. Bem pode Condoleezza Rice admitir agora, em visita ao Reino Unido, que os Estados Unidos cometeram milhares de erros tácticos no Iraque.
Considero que a questão principal em disputa nunca esteve nos erros tácticos, muito menos na sua quantidade, antes no clamoroso erro de avaliação feito pelos Estados Unidos quanto à sua liberdade de actuação estratégica quando decidiram intervir militarmente no Iraque. A questão da necessidade do robustecimento da Aliança que os Estados Unidos precisariam de montar para apoiar a invasão não seria uma questão militar - aí os norte-americanos não têm qualquer problema - mas sim política. E a coligação de médias potências deixadas para trás é demasiado extensa, mesmo para o arcaboiço norte-americano.
Suspeito que a confissão de Rice já nada vai mudar para um desenlace que cada vez mais se antecipa: os Estados Unidos retiram militarmente do Iraque por detrás de um nevoeiro congratulatório do êxito da missão cumprida – destinado sobretudo à sua opinião pública doméstica.
Mas, por muito desfasados e desenquadrados que estes episódios por parte de Chirac e de Rice, não quero deixar de recordar o episódio mais ridículo dos tempos modernos, quando a tal janela de oportunidade já estaria até provavelmente murada – quando João Paulo II reconheceu que a inquisição se havia excedido no episódio de Galileu, 450 anos atrás…
E quantos "Galileus" sentenciou a Santa Inquisição, sem qualquer "janela"... mas com muita "oportunidade"?!?
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