Às vezes, em Portugal, temos o privilégio de assistir a discussões e debates que não desmerecem o enredo de Guerras de Alecrim e Manjerona de António José da Silva, o Judeu. Recentemente, reacendeu-se a polémica sobre os limites da alcoolemia dos condutores.
A propósito disso, entramos num jornal on-line e o conteúdo de um texto sobre o assunto levanta-nos a suspeita de o irmos descobrir assinado no fim por Ricardo Araújo Pereira ou outro Gato Fedorento. Mas não, é mesmo a sério.
Reflectindo sobre o tema e começando por recuperar um slogan usado – falaciosamente – pela Associação (NRA) que faz lóbi pela liberdade absoluta do porte de armas na América: As armas não matam pessoas; são as pessoas que matam as outras pessoas.
Embora eu não conceba muito mais coisas para as pessoas fazerem com armas, a não ser atirar em alvos, animais ou pessoas – daí a falácia do argumento – consigo descrever uma profusão de actividades que se podem desenvolver depois de ingerir bebidas alcoólicas, sem ser a de conduzir automóveis.
Isso para não mencionar a opção de escala que está disponível para quem ingere bebidas alcoólicas: ou se bebe mais, ou se bebe menos. Mas, numa arma, ou se dá um tiro, ou não. Podemos, por isso, adaptar com muito mais propriedade a frase da NRA ao caso das bebidas: As bebidas alcoólicas não se fazem à estrada, as pessoas é que conduzem embriagadas.
Regressando ao texto humorístico, tudo parece ter sido desencadeado pelas declarações ao Diário de Notícias do secretário de estado da Administração Interna, Ascenso Simões, que, perante a evolução dos valores registados da sinistralidade fez um ultimato: Se o sector vitivinícola não se mobilizar para contrariar esta tendência, a taxa actual (0,49 gramas por litro de sangue) será revista.
Ora este ultimato é um portento de imaginação porque não consigo acompanhar de que forma o secretário de estado quer que a mobilização dos produtores e comerciantes de vinho se concretize. Fornecendo um balãozinho teste de bónus por cada caixa de 12 garrafas? E os importadores de outras bebidas espirituosas não se podem associar, ou a mobilização fica reservada apenas ao sector vitivinícola?
Fase seguinte: o ministro da Agricultura fica compreensivelmete aborrecido, já tem chatices que cheguem com os subsídios e com os lóbis dos agricultores, não precisa que um secretário de estado qualquer, que nem depende da sua tutela, ainda os venha irritar mais.
Benignamente, considera as declarações como um desabafo. Não seria surpreendente que, off record, se tivesse congratulado por não terem feito o teste de alcoolemia ao secretário de estado quando ele proferiu as declarações porque teria chumbado, qualquer que fosse a taxa…
Na terceira fase, o secretário de estado vem esclarecer as suas declarações anteriores, corroborando a regra estabelecida nesse grande manual de prática política disfarçado em série de televisão sob o nome de Yes, Minister: Se se esclarece uma declaração prévia, é porque ela já foi bem percebida demais…
Estava o disparate confinado ao governo quando entra em cena a CAP e logo de forma ribombante: Para a Confederação de Agricultores de Portugal (CAP), o vinho não é responsável pelos acidentes mas sim as bebidas brancas.
É uma declaração que, além de... imoderada, nem sequer é patriótica: então os importadores do Johnnie Walker ou do Jameson escapam impolutos? E os do Remy Martin e Napoleon franceses também?
Ou então, como li aqui, tenho que me render às evidências: tudo vai bem até aquele penalti final… Mas, pelo sim, pelo não, iria sugerir que, sobre este tema, mais ninguém prestasse declarações ou emitisse mais comunicados sem antes passar pelo teste de alcoolemia - mesmo à taxa vigente…
A propósito disso, entramos num jornal on-line e o conteúdo de um texto sobre o assunto levanta-nos a suspeita de o irmos descobrir assinado no fim por Ricardo Araújo Pereira ou outro Gato Fedorento. Mas não, é mesmo a sério.
Reflectindo sobre o tema e começando por recuperar um slogan usado – falaciosamente – pela Associação (NRA) que faz lóbi pela liberdade absoluta do porte de armas na América: As armas não matam pessoas; são as pessoas que matam as outras pessoas.
Embora eu não conceba muito mais coisas para as pessoas fazerem com armas, a não ser atirar em alvos, animais ou pessoas – daí a falácia do argumento – consigo descrever uma profusão de actividades que se podem desenvolver depois de ingerir bebidas alcoólicas, sem ser a de conduzir automóveis.
Isso para não mencionar a opção de escala que está disponível para quem ingere bebidas alcoólicas: ou se bebe mais, ou se bebe menos. Mas, numa arma, ou se dá um tiro, ou não. Podemos, por isso, adaptar com muito mais propriedade a frase da NRA ao caso das bebidas: As bebidas alcoólicas não se fazem à estrada, as pessoas é que conduzem embriagadas.
Regressando ao texto humorístico, tudo parece ter sido desencadeado pelas declarações ao Diário de Notícias do secretário de estado da Administração Interna, Ascenso Simões, que, perante a evolução dos valores registados da sinistralidade fez um ultimato: Se o sector vitivinícola não se mobilizar para contrariar esta tendência, a taxa actual (0,49 gramas por litro de sangue) será revista.
Ora este ultimato é um portento de imaginação porque não consigo acompanhar de que forma o secretário de estado quer que a mobilização dos produtores e comerciantes de vinho se concretize. Fornecendo um balãozinho teste de bónus por cada caixa de 12 garrafas? E os importadores de outras bebidas espirituosas não se podem associar, ou a mobilização fica reservada apenas ao sector vitivinícola?
Fase seguinte: o ministro da Agricultura fica compreensivelmete aborrecido, já tem chatices que cheguem com os subsídios e com os lóbis dos agricultores, não precisa que um secretário de estado qualquer, que nem depende da sua tutela, ainda os venha irritar mais.
Benignamente, considera as declarações como um desabafo. Não seria surpreendente que, off record, se tivesse congratulado por não terem feito o teste de alcoolemia ao secretário de estado quando ele proferiu as declarações porque teria chumbado, qualquer que fosse a taxa…
Na terceira fase, o secretário de estado vem esclarecer as suas declarações anteriores, corroborando a regra estabelecida nesse grande manual de prática política disfarçado em série de televisão sob o nome de Yes, Minister: Se se esclarece uma declaração prévia, é porque ela já foi bem percebida demais…
Estava o disparate confinado ao governo quando entra em cena a CAP e logo de forma ribombante: Para a Confederação de Agricultores de Portugal (CAP), o vinho não é responsável pelos acidentes mas sim as bebidas brancas.
É uma declaração que, além de... imoderada, nem sequer é patriótica: então os importadores do Johnnie Walker ou do Jameson escapam impolutos? E os do Remy Martin e Napoleon franceses também?
Ou então, como li aqui, tenho que me render às evidências: tudo vai bem até aquele penalti final… Mas, pelo sim, pelo não, iria sugerir que, sobre este tema, mais ninguém prestasse declarações ou emitisse mais comunicados sem antes passar pelo teste de alcoolemia - mesmo à taxa vigente…
Devem ter visto e guardado, no subconsciente, os quadros revisteiros protagonizados pelo duo Ivone Silva-Camilo de Oliveira, há muitos anos, na RTP, com o refrão:
ResponderEliminar"Este país é um colosso:
'Tá tudo grosso, 'tá tudo grosso!"
... e não é que 'tão mesmo!!!