02 abril 2006

HUGH LAURIE

Gostaria de começar este poste por Rowan Atkinson. Atkinson produziu duas séries de TV de imenso sucesso: uma – Mr. Bean – dirigida ao povo, outra – Blackadder – dirigida às elites que, como ele, frequentaram Oxford ou Cambridge.

Esta segunda, desenrola-se em quatro momentos históricos distintos – Inglaterra pré-Tudor, período Isabelino, Regência do início do século XIX e 1ª Guerra Mundial – sendo os Blackadder uma dinastia (sempre Rowan Atkinson) que se perpetua e acompanha a evolução da História de Inglaterra.

Contudo, muito do sucesso desta série é da responsabilidade dos secundários de Atkinson – ao contrário do que acontece com Bean – como Tony Robinson, Stephen Fry ou Hugh Laurie.

No caso de Laurie, ele consegue atribuir um grau de acefalia aos personagens que representa que é dificilmente igualado. Na imagem acima, ele representa o príncipe-regente (à esquerda com Atkinson) mais tonto de que há memória na história inglesa.

É, por isso, com surpresa que o vejo, convincente, na nova série House, como Dr. House, a nova coqueluche intelectual do momento. É um médico brilhante, mas de trato muito difícil, a culminar os maus-tratos que a TVI presta ao telespectador passando a série à meia-noite e meia de quinta-feira. Ainda por cima, a série é servida logo aos pares, como antigamente acontecia na praça do peixe com as cavalas.

Mesmo assim, num certo círculo é anátema criticá-la. Tudo o que é intelectual com problemas de socialização a adora. Retirei de um quadro de um antigo oficial de artilharia uma citação que gostaria de adaptar: numa batalha, a artilharia confere dignidade ao que, de outro modo, seria uma rixa confusa.

Metamorfoseando-a, para certo tipo de apreciadores, a série House confere dignidade àquilo que, de outro modo, seria apenas uma mera demonstração de grosseria no trato social.

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