22 abril 2006

UM EMBRIÃO DE MFA NA AMÉRICA?

Já caiu na categoria das afirmações incontroversas, a que é atribuída a Clausewitz, que a Guerra é a continuação da disputa política, usando outros meios. O que permaneceu controverso tem sido a escolha, prática, do nível hierárquico de fronteira entre aqueles que devem ser ocupados superiormente pelos políticos e os que têm de ser ocupados pelos profissionais militares.

Em 1918, nos finais da 1ª Guerra Mundial, havia uma França, dirigida por um primeiro-ministro (Clémenceau) conhecido pela afirmação de que “a guerra era um assunto demasiado sério para ser confiado aos militares”, defronte de uma Alemanha onde o Quartel-Mestre-General do Comando Supremo do Exército (Ludendorff) punha e dispunha como se a guerra fosse uma coisa séria de mais para que o governo civil pudesse dirigir a economia, as finanças ou os transportes.

Entre estas concepções extremas, foi Clémenceau que compareceu como vencedor à Conferência de Versalhes de 1919. O poder político civil superiorizou-se ao militar. E, novamente em 1945, é incontestável que as três potências vencedoras do conflito, apesar das enormes divergências ideológicas entre si, eram substancialmente muito menos militaristas do que as duas potências vencidas da 2ª Guerra Mundial.

Manteve-se esse predomínio político civil como o clima dominante de parte a parte durante a Guerra-Fria, apenas contrariado por algumas excepções ocasionais, de que o caso mais relevante, sobretudo pela importância do país envolvido, terá sido o da França de 1958. Normalmente, aconteceram quando se chegou a situações de lacunas de assumpção do seu papel por parte do poder político civil.
Nalguns casos foram desencadeados de uma forma directa pelo topo das hierarquias militares – Turquia, Grécia, Polónia – noutros manifestaram-se através de estruturas informais dentro do aparelho militar, como foram os casos da OAS francesa, do MFA português ou da UMD espanhola. Destes últimos, apenas a organização portuguesa chegou ao poder através de um golpe de estado.

Mais de 15 anos depois do fim da Guerra-Fria, é curioso registar o aparecimento de ambientes com algumas semelhanças com as que estiveram por detrás das organizações mencionadas, mas agora do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, a fazer fé neste artigo do New York Times.

Como Marcello Caetano poderia muito bem explicar a Bush e Rumsfeld, a técnica da nomeação de generais domesticados para preencherem o topo da hierarquia de tropas envolvidas em operações militares não é uma solução durável. E há organizações em que rupturas nas relações verticais da hierarquia - como também parece estar a acontecer com a CIA - as torna inoperacionais.

É evidente que os Estados Unidos são uma sociedade democrática e é impensável conceber que haja ali golpes de estado - só mesmo nos filmes de ficção! Mas a prática de Rumsfeld e desta administração é como tapar o pipo de uma panela de pressão. Aguenta-se por alguns minutos, mas depois o ar vai ter de sair por algum lado…

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