Aposto que este seria um título que os Monty Phyton não desdenhariam para um dos seus episódios. Contudo, foi um problema sério com que se defrontaram os pioneiros da aviação no princípio da 1ª Guerra Mundial.
Quando acontecia que dois pilotos inimigos se cruzavam nos céus nas pacíficas missões iniciais de reconhecimento, primeiro cumprimentavam-se, depois passaram a ir armados e a disparar para o avião adversário, mas com uma eficácia reduzida, porque pilotar e fazer pontaria - lateralmente - não combinava bem.
A área frontal não podia ser usada como área de tiro por causa dos hélices que podiam ser danificados pelo próprio piloto ao disparar a sua arma. Para a criação de aviões verdadeiramente vocacionados para o combate aéreo contornou-se este problema de quatro maneiras distintas.
- Voltando à prancheta, os desenhadores transferiram o hélice para a traseira, atrás das asas. O avião passava a poder atirar em frente mas era muito mais difícil de manobrar.
Quando acontecia que dois pilotos inimigos se cruzavam nos céus nas pacíficas missões iniciais de reconhecimento, primeiro cumprimentavam-se, depois passaram a ir armados e a disparar para o avião adversário, mas com uma eficácia reduzida, porque pilotar e fazer pontaria - lateralmente - não combinava bem.
A área frontal não podia ser usada como área de tiro por causa dos hélices que podiam ser danificados pelo próprio piloto ao disparar a sua arma. Para a criação de aviões verdadeiramente vocacionados para o combate aéreo contornou-se este problema de quatro maneiras distintas.
- Voltando à prancheta, os desenhadores transferiram o hélice para a traseira, atrás das asas. O avião passava a poder atirar em frente mas era muito mais difícil de manobrar.
- Desenrascando o problema concreto, pondo duas chapas de aço deflectoras na traseira dos hélices do avião. O avião ficava desequilibradamente mais pesado e também difícil de manobrar.
- Criando um novo avião em que a metralhadora estava instalada no eixo central do hélice. Eficaz mas limitava o design do avião e o seu poder de fogo a apenas uma metralhadora.
- Concebendo um sistema que sincronizasse o disparo das metralhadoras com o da passagem das pás dos hélices. Foi o que prevaleceu e, primeiramente usado pelos alemães, acabou adaptado por todos os contendores.
Adiantemo-nos agora 90 anos e pretendamos que este problema – a forma como disparar frontalmente uma metralhadora quando um avião é movido a hélice - fosse ser resolvido pela sociedade portuguesa actual:
É evidente que, dada a gravidade do problema e a premência de uma solução, o ministro António Costa - sempre atento - viria à televisão anunciar a formação imediata duma comissão de estudos do problema no âmbito do seu ministério, gesto a que os outros ministros corresponderiam, formando as suas.
Entre as várias comissões ministeriais formadas para o efeito, haveria duas (as dos ministérios da defesa e da indústria) que entre os relatórios de, respectivamente, 237 e 344 páginas chegariam a produzir dois esboços que poderiam eventualmente vir a servir de base para uma ideia viável.
A comissão do ministério da ciência exceder-se-ia e teria produzido mesmo um relatório de 215 páginas de onde constava um desenho pormenorizado de um avião que, com um hélice traseiro, podia resolver o problema do tiro frontal. Mas havia agora que formar uma nova comissão, esta de coordenação com o ministério da indústria, para a produção de um protótipo desse aparelho revolucionário.
Em contrapartida o teor do relatório da comissão do ministério da educação incidia mais sobre as relações hierárquicas entre os pilotos e os mecânicos dos aviões, o que se afastava ligeiramente da solicitação original: como se pode disparar frontalmente de um avião sem danificar os hélices. Tudo ficou explicado quando se constatou que 14 dos 16 membros da comissão tinham formação na área da sociologia, psicologia ou aparentada.
Longe deste frenesim governamental, um funcionário da conservatória do registo predial de Trancoso, inventor nas horas vagas, tinha concebido na garagem de sua casa um deflector em aço que se aplicava aos hélices dos aviões desviando as balas. Tinha vindo à televisão à procura de um empresário que se interessasse pelo seu invento.
Tinham até aparecido dois ou três empresários que até estavam na disposição de comprar a patente do invento mas pelo preço simbólico de um euro. Entretanto, apareceu um outro empresário que, fora do que se estava a discutir, se propôs criar uma fábrica de foguetes espaciais em Sines, mas precisava de uns subsídios governamentais suplementares.
Mas, tudo isso eram acontecimentos que se estavam a passar lá longe das elites citadinas de Lisboa e Porto, as que se consideram orientadoras da formação da opinião pública nacional.
Entre os editoriais dos grandes jornais, o de António José Teixeira, no Diário de Noticias, reconheceria que Portugal se defrontava com um problema sério. O de José Manuel Fernandes, no Público, seria algo semelhante mas concluiria nos dois parágrafos finais sobre as boas fundamentações da intervenção norte-americana no Iraque.
Entre os comentadores de maior nomeada, José Pacheco Pereira consideraria que estava lá tudo, na forma como os pilotos mal controlavam os seus aviões quando voavam em formação e como seria necessário remodelar o ensino de voo. Vital Moreira ter-se-ia pronunciado sobre a inconstitucionalidade do hélice. E Vasco Pulido Valente não tinha dúvidas em afirmar que os portugueses não eram feitos para voar quanto mais para andar lá em cima aos tiros.
Enquanto tudo isto se passava, o primeiro-ministro José Sócrates viria por diversas vezes à televisão, sob diversos pretextos, ladeado pelos ministros Pinho e Lino, reafirmar o seu maior interesse na tecnologia e como adorava voar…
Agora a sério: como é que, pertencendo a uma sociedade que tem um deficit mais do que evidente em pessoas que resolvam concretamente problemas, não existe entre nós a apreciação social devida àqueles que mostram saber fazê-lo?
- Criando um novo avião em que a metralhadora estava instalada no eixo central do hélice. Eficaz mas limitava o design do avião e o seu poder de fogo a apenas uma metralhadora.
- Concebendo um sistema que sincronizasse o disparo das metralhadoras com o da passagem das pás dos hélices. Foi o que prevaleceu e, primeiramente usado pelos alemães, acabou adaptado por todos os contendores.
Adiantemo-nos agora 90 anos e pretendamos que este problema – a forma como disparar frontalmente uma metralhadora quando um avião é movido a hélice - fosse ser resolvido pela sociedade portuguesa actual:
É evidente que, dada a gravidade do problema e a premência de uma solução, o ministro António Costa - sempre atento - viria à televisão anunciar a formação imediata duma comissão de estudos do problema no âmbito do seu ministério, gesto a que os outros ministros corresponderiam, formando as suas.
Entre as várias comissões ministeriais formadas para o efeito, haveria duas (as dos ministérios da defesa e da indústria) que entre os relatórios de, respectivamente, 237 e 344 páginas chegariam a produzir dois esboços que poderiam eventualmente vir a servir de base para uma ideia viável.
A comissão do ministério da ciência exceder-se-ia e teria produzido mesmo um relatório de 215 páginas de onde constava um desenho pormenorizado de um avião que, com um hélice traseiro, podia resolver o problema do tiro frontal. Mas havia agora que formar uma nova comissão, esta de coordenação com o ministério da indústria, para a produção de um protótipo desse aparelho revolucionário.
Em contrapartida o teor do relatório da comissão do ministério da educação incidia mais sobre as relações hierárquicas entre os pilotos e os mecânicos dos aviões, o que se afastava ligeiramente da solicitação original: como se pode disparar frontalmente de um avião sem danificar os hélices. Tudo ficou explicado quando se constatou que 14 dos 16 membros da comissão tinham formação na área da sociologia, psicologia ou aparentada.
Longe deste frenesim governamental, um funcionário da conservatória do registo predial de Trancoso, inventor nas horas vagas, tinha concebido na garagem de sua casa um deflector em aço que se aplicava aos hélices dos aviões desviando as balas. Tinha vindo à televisão à procura de um empresário que se interessasse pelo seu invento.
Tinham até aparecido dois ou três empresários que até estavam na disposição de comprar a patente do invento mas pelo preço simbólico de um euro. Entretanto, apareceu um outro empresário que, fora do que se estava a discutir, se propôs criar uma fábrica de foguetes espaciais em Sines, mas precisava de uns subsídios governamentais suplementares.
Mas, tudo isso eram acontecimentos que se estavam a passar lá longe das elites citadinas de Lisboa e Porto, as que se consideram orientadoras da formação da opinião pública nacional.
Entre os editoriais dos grandes jornais, o de António José Teixeira, no Diário de Noticias, reconheceria que Portugal se defrontava com um problema sério. O de José Manuel Fernandes, no Público, seria algo semelhante mas concluiria nos dois parágrafos finais sobre as boas fundamentações da intervenção norte-americana no Iraque.
Entre os comentadores de maior nomeada, José Pacheco Pereira consideraria que estava lá tudo, na forma como os pilotos mal controlavam os seus aviões quando voavam em formação e como seria necessário remodelar o ensino de voo. Vital Moreira ter-se-ia pronunciado sobre a inconstitucionalidade do hélice. E Vasco Pulido Valente não tinha dúvidas em afirmar que os portugueses não eram feitos para voar quanto mais para andar lá em cima aos tiros.
Enquanto tudo isto se passava, o primeiro-ministro José Sócrates viria por diversas vezes à televisão, sob diversos pretextos, ladeado pelos ministros Pinho e Lino, reafirmar o seu maior interesse na tecnologia e como adorava voar…
Agora a sério: como é que, pertencendo a uma sociedade que tem um deficit mais do que evidente em pessoas que resolvam concretamente problemas, não existe entre nós a apreciação social devida àqueles que mostram saber fazê-lo?
Ainda um dia tenho que transcrever alguns parágrafos de um livro, "La Comédie du Pouvoir" de uma senhora que foi jornalista e Ministra da Condição Feminina em França: Françoise Giroud!
ResponderEliminarMesmo para lá dos Pirinéus o panorama político não é diferente: só muda a língua; as moscas são as mesmas!
Mais do que político, é cultural e expressa-se de diversas formas: o empresário a armar-se em esperto e a tentar aldrabar o inventor lá das berças é o português no seu "melhor".
ResponderEliminarÉ evidente que o post, pelo sarcasmo, exagera, mas aquilo que acontece numa maioria de vezes acontece apesar (e não por causa de)das comissões de estudo, acompanhamento e verificação.
É um exemplo que se pode ver na rua quando um carro avaria: para três que o empurram a ver se pega, há quinze que ficam a comentar a disposição mais eficaz dos três que empurram.
Deve ser a razão das dificuldades, no caso francês de que fala (e noutras culturaas latinas), de algumas dificuldades de funcionamento de empresas daquelas origens a operarem em Portugal: para dirigentes de organizações do tipo de mandar bocas e não fazer nenhum, não precisamos de os importar,estamos por cá muito bem servidos...
Impressionalmente!
ResponderEliminarconseguiu não falar nada com nada em muita coisa....
me rendeu momentos de leitura magníficos...
parabéns