10 maio 2006

O TIGRE DA MALÁSIA

São raros, mas sempre de saudar, os episódios em que um governo tem de desmanchar uma medida de um seu antecessor, para mais quando, com esse gesto, corre o risco de penalizar e desagradar a algum núcleo propenso a manifestações. Mas não lhe resta outra solução.

Assim, de memória, lembro-me do governo do PSD reintroduzir o pagamento de portagem na CREL, o que suscitou umas mediaticamente interessantes manifestações de umas comissões de utentes que o tempo encarregou de levar para as páginas interiores e depois para o esquecimento. Estamos para ver quando o actual governo do PS terá que arranjar coragem para fazer o mesmo a outras vias rápidas.

O actual ministro da defesa, Luís Amado de nome (e Sandokan de alcunha), tem o privilégio de ter herdado o lugar de Paulo Portas, o que por vezes lhe exige uma habilidade de sapador engenheiro, habilidosas que são as armadilhas que herdou no seu legado.

É salutar ler que o ministério da defesa está a equacionar a hipótese de proceder a uma alteração do regime das pensões aos ex-combatentes do ultramar, uma medida que, pela evidente falta de uma estrutura financeira equilibrada que a suportasse, foi vista sempre como uma habilidade circense para sustentar as promessas eleitorais do antecessor de Luís Amado na pasta da defesa.

Teoricamente, as carreiras políticas podem fazer-se ao serviço do estado, mas não pode ser aceitável pôr o estado ao serviço das carreiras políticas. Parece ser hoje evidente que o tal fundo onde se iriam buscar os fundos para financiar as pensões era uma ideia financeiramente muito pouco... fundamentada.
 
À falta da possibilidade de responsabilizar civilmente Paulo Portas por algumas decisões enquanto ministro torna-se desagradável mas necessário denunciar algumas das suas medidas como demagogia barata e aqui, pelo valor das pensões em causa em comparação com a propaganda preparatória que delas foi feita, trata-se de demagogia literalmente barata.

1 comentário:

  1. Creio que Paulo Portas tentou, enquanto ministro, fazer uma política "Louçã", talvez por "contágio" do mano Miguel, e apenas conseguiu provar que "os extremos tocam-se"...

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