15 maio 2006

AS MERETÍSSIMAS MARIAS ANTONIETAS

Corre uma história, muito provavelmente falsa, a respeito da rainha Maria Antonieta de França que, a propósito de uma revolta popular em que se pedia pão, ela questionou o seu séquito porque é que as manifestantes não comiam brioches em alternativa.

Como a do meu poste anterior, também provavelmente falsa, esta história diz muito mais sobre a percepção que a sociedade tinha da pessoa ou das pessoas em causa naquela época e, por isso, em episódios destes, a verdade acaba por sair cilindrada no processo.

A realidade é que Maria Antonieta sempre gerou uma grande hostilidade entre as diversas camadas da sociedade francesa desde que veio para França e não teve nem habilidade nem ninguém que a aconselhasse a reverter esse processo. Para o fim, nos primórdios da Revolução Francesa, para os franceses ela corporizava tudo o que de mau existia no Antigo Regime, inclusive a falta de solidariedade com o sofrimento das outras classes.

Mas se a história dos brioches parece ser apócrifa, correm por esta nossa blogosfera textos da autoria de magistrados, e portanto de autoria comprovadamente não apócrifa, que, para além da comicidade do gongorismo do estilo, parecem-me manifestar a mesma dissociação da realidade da sociedade que os rodeia de uma forma idêntica à que se pretendia atribuir a Maria Antonieta com aquela pergunta.

Eu até posso considerar que, entre eles, pareça haver quem confunda erudição com exuberância vocabular e se torne ainda mais engraçado por isso, mas começa a ser incomodativo e começa até a parecer deveras fracturante a forma como se começam a separar estilos, mesmo aqui na blogosfera, entre os que aqui escrevem na defesa das posições das magistraturas, todas, e os outros, todos.

Que não pareça uma ameaça para os distintos colegas de blogosfera que têm demonstrado um maior empenho na defesa das causas que têm afectado as magistraturas , mas apenas uma nota histórica para sua reflexão, que os revolucionários guilhotinaram o rei, Luís XVI, por obrigação e razão política, mas a Maria Antonieta, por causa da sua impopularidade, fizeram-no por devoção. Parecia haver algo de preversamente justo na execução de alguém que (alegadamente)sempre se mostrara tão distante dos sofrimentos dos outros...

1 comentário:

  1. Como dizia um amigo meu o poder judicial não se democratizou com o 25 de Abril. E, quendo aqui se emprega a expressão democratizar não se fala de o poder judicial ir a votos (possível mas não indispensável numa democracia), mas sim do hábito de prestar contas aos restantes cidadãos pelos seus actos.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.