Já passaram alguns anos e, antes que alguém largue mais algum apelo lancinante ao retorno de José Magalhães, deixem-me confessar-lhes que, durante uns meses, concordei em fazer parte de um painel cuja opinião era auscultada pelo Dr. Jorge Coelho, então ministro.
Com uma rotina semanal ou quinzenal (já não posso precisar), lá recebia o telefonema da praxe onde me eram colocadas um conjunto de perguntas da actualidade política, quer geral, quer mais directamente ligadas ao ministério de Jorge Coelho.
O que as perguntas tinham de peculiar era serem precedidas de considerandos. Não sei se eram elaboradas pelo próprio Jorge Coelho ou se apenas sofriam a sua supervisão, mas, na maioria das vezes, o considerando era redigido com uma tal orientação que responder ao contrário do que era esperado far-nos-ia passar por imbecis.
E a menina do centro de sondagens lá as trauteava. Concretamente, num assunto como o da falência da Swissair, a companhia de aviação suíça que havia sido eleita como parceira estratégica da TAP, a pergunta apresentar-se-ia mais ou menos assim “considerando que a falência da Swissair não era previsível, como julga o comportamento do governo no processo de redução dos prejuízos daí decorrentes para a TAP?”
O governo, neste caso, era o ministro e o ministro era Jorge Coelho, autor, a propósito desse acontecimento, de uma das três intervenções mais imbecis produzidas por governantes depois do 25 de Abril de 74. Por ordem cronológica, mas não de imbecilidade, temos:
1)“As definições de fascismo”, um discurso de Pereira de Moura, logo em Maio de 74, onde se ficou a saber que fascismo era um conceito muito abrangente, incluindo a incompetência, a má educação ou a corrupção: "quando alguém vai a uma repartição pública e é mal atendido, isso é fascismo".
2)“As vantagens do colapso”, um discurso produzido por um secretário de estado, a propósito do colapso da ponte da Figueira da Foz escassos dias depois da sua inauguração, quando antecipou as vantagens dos postos de trabalho que teriam de ser criados para reparar a ponte.
3)“As liberdades contratuais”, uma análise de Jorge Coelho a propósito da referida falência da Swissair, quando a ausência de um montante indemnizatório no contrato foi considerado por ele como um factor muito positivo: assim a TAP ficaria com a liberdade de pedir a indemnização que muito bem entendesse.
Regressando às perguntas de (e para) Jorge Coelho colocadas ao tal painel de que eu fazia parte, apercebi-me que, com as perguntas formuladas daquele modo, o objectivo nunca podia ser o de colher uma imagem honesta (embora confidencial) da forma como a sua actuação era vista pela opinião pública.
Entre os que fazem batota, há aqueles que até fazem batota sozinhos, quando jogam uma paciência, por exemplo. Mas, destes, há ainda os mais refinados, os que a fazem, pretendendo para si mesmos que não a fizeram. Pelo exemplo, é o caso de Jorge Coelho.
Só assim se compreendem as intervenções de Jorge Coelho, na Quadraturadocírculo da SIC Notícias, quando os seus colegas manifestam preocupação por questões objectivas e ele responde constantemente com a imagem governamental que se tem mantido positiva nas sondagens. É como se fosse tudo um jogo, para ele as sondagens são mais do que um meio, são mesmo um fim.
Segundo sei, Paulo Gorjão, o programa foi pré-gravado, portanto conforme-se, o mal já está feito.
Com uma rotina semanal ou quinzenal (já não posso precisar), lá recebia o telefonema da praxe onde me eram colocadas um conjunto de perguntas da actualidade política, quer geral, quer mais directamente ligadas ao ministério de Jorge Coelho.
O que as perguntas tinham de peculiar era serem precedidas de considerandos. Não sei se eram elaboradas pelo próprio Jorge Coelho ou se apenas sofriam a sua supervisão, mas, na maioria das vezes, o considerando era redigido com uma tal orientação que responder ao contrário do que era esperado far-nos-ia passar por imbecis.
E a menina do centro de sondagens lá as trauteava. Concretamente, num assunto como o da falência da Swissair, a companhia de aviação suíça que havia sido eleita como parceira estratégica da TAP, a pergunta apresentar-se-ia mais ou menos assim “considerando que a falência da Swissair não era previsível, como julga o comportamento do governo no processo de redução dos prejuízos daí decorrentes para a TAP?”
O governo, neste caso, era o ministro e o ministro era Jorge Coelho, autor, a propósito desse acontecimento, de uma das três intervenções mais imbecis produzidas por governantes depois do 25 de Abril de 74. Por ordem cronológica, mas não de imbecilidade, temos:
1)“As definições de fascismo”, um discurso de Pereira de Moura, logo em Maio de 74, onde se ficou a saber que fascismo era um conceito muito abrangente, incluindo a incompetência, a má educação ou a corrupção: "quando alguém vai a uma repartição pública e é mal atendido, isso é fascismo".
2)“As vantagens do colapso”, um discurso produzido por um secretário de estado, a propósito do colapso da ponte da Figueira da Foz escassos dias depois da sua inauguração, quando antecipou as vantagens dos postos de trabalho que teriam de ser criados para reparar a ponte.
3)“As liberdades contratuais”, uma análise de Jorge Coelho a propósito da referida falência da Swissair, quando a ausência de um montante indemnizatório no contrato foi considerado por ele como um factor muito positivo: assim a TAP ficaria com a liberdade de pedir a indemnização que muito bem entendesse.
Regressando às perguntas de (e para) Jorge Coelho colocadas ao tal painel de que eu fazia parte, apercebi-me que, com as perguntas formuladas daquele modo, o objectivo nunca podia ser o de colher uma imagem honesta (embora confidencial) da forma como a sua actuação era vista pela opinião pública.
Entre os que fazem batota, há aqueles que até fazem batota sozinhos, quando jogam uma paciência, por exemplo. Mas, destes, há ainda os mais refinados, os que a fazem, pretendendo para si mesmos que não a fizeram. Pelo exemplo, é o caso de Jorge Coelho.
Só assim se compreendem as intervenções de Jorge Coelho, na Quadraturadocírculo da SIC Notícias, quando os seus colegas manifestam preocupação por questões objectivas e ele responde constantemente com a imagem governamental que se tem mantido positiva nas sondagens. É como se fosse tudo um jogo, para ele as sondagens são mais do que um meio, são mesmo um fim.
Segundo sei, Paulo Gorjão, o programa foi pré-gravado, portanto conforme-se, o mal já está feito.
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