16 maio 2006

SÃO PAULO

As imagens de violência que nos chegam de São Paulo têm muitas semelhanças com aquelas que nos chegam de Bagdade e seriam porventura muito parecidas com as que nos chegariam de Mogadishu, na Somália, houvesse algum interesse mediático em cobrir a guerra de guerrilha urbana que ali se está a travar.

A grande novidade dos acontecimentos de São Paulo, por oposição aos de Bagdade, ambos razoavelmente cobertos pelos média, é que os revoltosos não precisaram de fundamentar politicamente, ou de outra forma elevada, as razões da sua revolta. Os líderes de uma organização mafiosa foram transferidos de prisão, não queriam, opuseram-se e lançaram uma insurreição armada pela cidade.

Pudessem as organizações nacionalistas clandestinas dos anos 50 e 60 (como a FLN argelina ou o MPLA angolano) lançar uma insurreição destas na capital no seu tempo e teriam a guerra de subversão semi-ganha em menos de uma semana. O problema é que estes guerrilheiros modernos parecem não querer nada. Ou melhor, querem: que o poder de estado não os chateie e que os seus líderes continuem aprisionados, mas nos sítios onde eles gostam de estar. Um verdadeiro manifesto conservador, portanto.

O que nos leva a outro passo do nosso raciocínio: a de que existe um país – Brasil – maioritariamente administrado por uma entidade designada por República Federativa do Brasil que exerce a autoridade sobre a maioria dos brasileiros e onde há uma minoria que aceita essa autoridade ou não conforme as suas conveniências. Não está mal de todo, há países em África que já se deixaram dessas bagatelas dos estados centrais como é o caso da Somália.

Acontecimentos deste género atraem discursos catastróficos e apocalípticos assim como aquele produto começado por M atrai varejeiras. Mas é preciso reconhecer que há algo de profundamente desconfortável quando se está à beira de ter de recorrer ao exército – e este é um dos raros casos (contra subversão) em que a intervenção de um exército tem vantagens sobre a da polícia num problema de ordem interna – para a imposição da autoridade do estado.
Há muito tempo, o governo português fez isso e, naquela altura, aquilo era colonialismo. Há colonialismo brasileiro nas favelas de São Paulo?

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