25 maio 2006

À PESCA

As regras de funcionamento da União Europeia têm, por vezes, consequências que se tornam risíveis. O ministro encarregado de dirigir e coordenar as negociações para um entendimento sobre os futuros programas de financiamento à actividade pesqueira, chama-se Jozef Pröll, e vem desse país de lendários marinheiros e pescadores chamado… Áustria*.

O problema é que não se chegou a um entendimento, tendo-se constituído dois blocos e um joker. Os blocos são designados pelos amigos do peixe, composto pelo Reino Unido, Alemanha e Bélgica, e pelos amigos da pesca, os restantes países à excepção da Polónia, que é o joker por querer mais fundos para a renovação da sua frota pesqueira.

A grande questão de fundo, causadora das divergências decorre, evidentemente, do volume de capturas de pescado autorizadas para o futuro próximo. O bloco dos amigos do peixe tem, evidentemente, uma posição mais restritiva a esse respeito e coincide, evidentemente, com os países onde a relevância económica e cultural da actividade piscatória e do consumo de peixe é menor.

Enfim, é tudo muito subjectivo, porque eu também posso ser da opinião que se devem preservar as espécies, especialmente se elas se destinarem a vir a ser comidas como acompanhamento de batata frita, como é a terrível prática no Reino Unido**… No meio de tudo isso, há que saudar, apesar do fracasso, o empenho e a imparcialidade do ministro Pröll, que deve estar mais familiarizado com trutas, carpas, lúcios e outros peixes de água doce. Outrora ser-se um almirante de água doce era considerado um insulto. Mistérios da máquina burocrática e informativa de Bruxelas, um ministro de água doce pode passar por uma virtude.

* A Áustria é um país interior...

** Também observável em restaurantes algarvios mais dedicados a clientela britânica.

2 comentários:

  1. Resta ao senhor Proll tentar ser amigo do peixe e da pesca como com Deus e com o Diabo.
    Mas que devia inventar uma norma qualquer para acabar com o "fish and chips", lá isso devia... Trata-se de uma questão de bom gosto. Que se lixem as tradições!

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  2. A pesca tem muito que se lhe diga e um austríaco é a pessoa indicada para lidar com o dossier: não tem nada a ver com pescas e nem sequer existem “lobbies” na União Europeia para “trabalhar” burocratas que têm que decidir sobre assuntos que desconhecem.
    Temos um caso semelhante (nas devidas proporções!) dentro de portas: os profissionais das pescas queixam-se da concorrência dos amadores e a solução que está em cima da mesa é indemnizar os armadores... com o dinheiro das licenças dos amadores!
    É verdade que existem amadores mais profissionais que os ditos e que conseguem, com a venda clandestina do peixe, bons lucros. Mas não são esses que são visados – são poucos e não seria rentável obrigá-los a pagarem impostos – são TODOS!

    Quanto aos nossos armadores, só se podem queixar da falta de produtividade! Não foi há tanto tempo assim que, analisando o assunto, a União Europeia deu carta (quase) branca aos arrastões espanhóis para pescarem nas águas portuguesas. Imagino o argumento: “Vocês andam a pescar há quase nove séculos e não conseguiram acabar com o peixe! Deixem lá ver se os espanhóis conseguem...”.

    Se não é este o raciocínio dos políticos/burocratas envolvidos nos dois casos... raios me partam!

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