05 novembro 2006

O ESCROQUE

O que me parece mais importante de uma notícia de sociedade a que o Diário de Notícias de hoje dá grande destaque e onde um médico patologista português (José Cortez Pimentel) foi condenado a uma indemnização de cerca de 100 mil euros por erro de diagnóstico, não é o ineditismo da condenação, devidamente realçado pelo jornal, mas os expedientes empregues pelo réu e (felizmente) detectados pelo Tribunal, para iludir o reconhecimento do referido erro.

Lendo atentamente a notícia percebe-se como os peritos que suportavam a opinião do réu se haviam pronunciado com base em fotografias que depois se constatou não corresponderem às lâminas originais do caso em julgamento, perante a observação das quais a opinião dos peritos se alterou radicalmente. Posteriormente, houve outras lâminas que sustentavam a tese do réu e que vieram a provar-se estar contaminadas com material de outros dadores…

Mais do que o erro profissional, o que sai verdadeiramente enxovalhado de toda esta história só pode ser o carácter do réu, a merecer um julgamento adicional, visto haver fortíssimos indícios que, perante o acumular das evidências do seu erro, se tenha dedicado a forjar provas e a iludir colegas para sua defesa. Ficando a saber, pela notícia, da idade avançada do réu, resta desejar, em retrospectiva, que estes seus traços de carácter tenham sido desencadeados pela senilidade…

E já que estamos em onda de desejos, que se ouvisse pelo menos um comentário ao episódio (quiçá mesmo uma condenação moral ao réu…) por parte da Ordem dos Médicos. Era uma forma de conferir dignidade à classe e uma saudável variante em relação às actividades sindicais em que normalmente vemos o seu bastonário e auxiliares próximos envolvidos…

4 comentários:

  1. Certeiro e demolidor!

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  2. Felizmente não se tratou de uma "Lâmina dourada", fez-se mesmo justiça, não houve arquivamento por falta de provas, ultrapassagem de prazos ou outra qualquer desculpa.
    Também por isso, este caso é exemplar, o que nos dá a medida da degradação da Justiça em Portugal quando nos admiramos com aquilo que deveria ser a regra mas que, infelizmente, é a excepção...

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  3. Também é por causa da ética, problema que o bastonário Pedro Nunes anda a mencionar repetidamente a respeito da questão do aborto e dos seus colegas que o venham ou não venham a praticar, que manifesto aqui a minha curiosidade sobre que comentários lhe poderão ocorrer a respeito da mesma ética, agora a respeito das práticas de falsificação comprovadas em tribunal por parte deste outro seu colega...

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  4. Será o mesmo médico autor do livro "ARRÁBIDA-História de uma Região Privilegiada" das edições INAPA? fico surpreendido

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