28 novembro 2006

A CARA QUE DEUS NOS DEU

Sei que pareço um ladrão.
Mas há outros que eu conheço
Que, não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço.

António Aleixo

É muito comum ouvir-se, quando se fala a respeito de burlas e de burlões, comentários apreciando como o burlão tinha uma cara de pessoa honesta. É um paradoxo de que normalmente nem nos apercebemos: para se ser burlão a cara de pessoa honesta é uma condição indispensável para o sucesso. Um burlão que tivesse o aspecto de António Aleixo não iria longe na sua carreira…

Mas a melhor descrição dos dilemas de quem nasceu com a cara que não deve, vem no preâmbulo de Lucky Luke contra Joss Jamon, de Morris e Goscinny (pois claro!), onde, na apresentação inicial do gang de Joss Jamon, se pode ler esta pérola sobre um dos membros: Sam, o lavrador, que, por um engano da natureza, foi beneficiado com uma cara de homem honesto*.

Não vou emitir juízos de valor sobre o comportamento da natureza ao pronunciar-me sobre a cara de Gilberto Madaíl. Direi apenas que, numa das mais portuguesinhas das definições, ele parece um gajo porreiro, com toda a falta de conteúdo que esta definição costuma ter. Fiquei impressionado com o sofrimento que mostrava ter quando compareceu no Prós e Contras da RTP há dois meses atrás.

Para quem se tenha esquecido, nesse programa, provocado pela bronca do atraso do início dos campeonatos de futebol, Gilberto Madaíl (ombreando com Valentim Loureiro, esse potentado do futebol português…) multiplicicou-se em juras sobre a saturação que os problemas (e os podres, ia-se percebendo com o decorrer do programa) do futebol lhe causavam. Por ele, amanhã ia-se embora!

Dois meses e meio passados sobre os lamentos públicos, com a mais descomunal cara de pau, aí temos Madaíl a recandidatar-se à presidência da FPF, no meio dos folguedos de hesitação em que ninguém já acredita. Havia um belga que se entretinha atirando tartes de creme à cara de figuras públicas em directo na televisão. Ele bem cá podia vir a Portugal e assestar uma por nós na cara de Gilberto Madaíl.

Era serviço público. Era uma boa utilização para aquela cara…

* Uso a tradução feita quanta a história saiu na Revista Tintin (nº 27, 1º Ano, de 30/11/1968).

2 comentários:

  1. A análise é perfeita, límpida e certeira.
    Apenas me atrevo a discordar quanto à cara do senhor Madaíl que não me parece nada a de um gajo porreiro.
    Pelo contrário, faz-me lembrar a de alguns ciganos (sem ofensa para estes) daqueles que, na Baixa, nos abordam com óculos, relógios e ervas pouco aromáticas.
    O presidente da Federação é eleito pelas Associações que são feudos do patriarca Madaíl, tudo controlado, votos assegurados, a rede tem a malha apertada.
    A Federação é um albergue espanhol onde o compadrio impera.
    Alguém sabe o que lá faz o senhor Carlos Silva? Que currículo tem para lá estar? E que sabe o senhor Brassard para treinar os melhores guarda-redes portugueses?
    Que provas deu o senhor Couceiro para ser escolhido para os Sub 21?
    Do que a Federação precisa é de uma boa vassourada, com eleições livres, não com votos à medida dos tachos e das fidelidades por conveniência...

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  2. Obrigado pelo cumprimento Paciente.

    Associados ao futebol pelos vistos, há casos de polícia (Vale e Azevedo, José Veiga), casos de constitucionalista (Valentim Loureiro e Pinto da Costa) e casos destes, até à descoberta de outras provas, de "bolos nas trombas".

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