20 novembro 2006

A RISCA AO MEIO DO PAULO BENTO

Uma das facetas que pode tornar incómodos os sucessos de Paulo Bento à frente do Sporting é a sua evidente falta de sofisticação no discurso e na apresentação, o que é indicativo quão desnecessária se torna, para o sucesso no desempenho do cargo de treinador, toda aquela sofisticação intelectual teórica que nos fartamos de ver nos comentadores desportivos dos canais de televisão.

Aparentemente, Paulo Bento demonstra uma capacidade de arregimentar e motivar a sua equipa idêntica à que transforma um supervisor de uma equipa de trabalho numas obras quaisquer de construção civil num profissional de grande sucesso. Aliás, é o tipo de sucesso idêntico ao que tornou famosa a reputação de Luís Filipe Scolari no Brasil que, por alguma razão, ganhou ali a alcunha de sargentão e não a de oficialão

O que parece faltar ao futebol português, onde existem os soldados (jogadores) e os sargentos (treinadores) são os oficiais (dirigentes) que, como não acontece com Luís Filipe Vieira, saibam fazer a distinção das ocasiões em que devem falar e as que devem permanecer calados, como aconteceu recentemente… Também ajuda que não tenham problemas com a justiça... Quanto ao restantes (comentadores), esses nem cabem na hierarquia e fazem tanto lá falta como uma viola num enterro...

Fotografia original retirada daqui, com os meus agradecimentos.

1 comentário:

  1. Que seria dos nossos tristes telejornais sem as imagens diárias (e ansiosamente aguardadas) dos treinos e das conferências de imprensa dos nossos heróis?
    Como viver sem as brilhantes dissertações desse facundo e fecundo Luís Freitas Lobo,de voz de eunuco, que eu nunca deixo de ouvir, tão bem nos explica o losango, o trapézio e o triângulo isósceles de tácticas de laboratório postas em prática no último terço do campo para cortar as linhas de passe em tempo de compensação?
    Calai-vos vós, profanos e ignorantes telespectadores de pantufas !!
    Percebei que um jogo de futebol não vale pela arte dos jogadores mas sim pelas figuras de retórica que os Lobos, os Gabriéis e os Fidalgos lançam no éter como pétalas de rosa perfumadas pelo suor vigoroso dos trincos, dos médios-ala e dos playmakers que, noutros tempos, eram conhecidos (prosaicamente) por armadores de jogo.
    O mérito de Paulo Bento é o risco ao meio, aceito. Mas é, sobretudo, o risco que assume, galhardamente, por ter uma visão despojada, singela e franca do futebol, sem armar em filósofo nem cientista...

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