02 novembro 2006

EVIDENTEMENTE!

Evoco uma história que ouvi de meu pai, nascido em região fronteiriça e em aldeia de contrabando, quando, a propósito de um incidente com ele relacionado em que um guarda-fiscal disparou um tiro que atingiu e matou um dos contrabandistas, deu por ele a ouvir uma mulher que, carpindo, não se cansava de repetir: E uma bala matou-o! E uma bala matou-o!

Ora meu pai, ainda criança, deu por si pensando com os seus botões, que tendo as balas e cada bala sido concebidas para matar, nada havia de extraordinário, embora o episódio fosse muito triste, que uma bala, e apenas uma, tivesse tirado a vida ao malogrado carregador de uma carga de café ou de outra coisa qualquer que ali estava a fazer mais uns cobres.

Se a referida mulher estava compreensivelmente alterada, o mesmo não se devia passar com a mesma gravidade ontem com Hermínio Loureiro quando reagia, como presidente da Liga, à notícia da decisão governamental de que se passasse a cobrar o IMI também aos estádios de futebol, entre outros imóveis classificados a quem a medida passa a ser aplicada.

E como a carpideira de outrora, durante a sua argumentação e, a espaços, Hermínio Loureiro repetia uma mesma expressão, como se de um ultraje se tratasse: Decisão unilateral… Decisão unilateral… Ora creio que, tal qual uma bala mata, também compete a um governo a missão de governar e como tal de decidir. E raramente há condições para que as decisões sobre impostos sejam bilaterais…

Se ainda é desculpável a ignorância da carpideira, já não há pachorra nenhuma para quem representa um espectáculo que é assumidamente um negócio e uma actividade que se pretende lucrativa – é o que a Liga é hoje! – e ainda por cima se vem carpir da retirada de isenções fiscais que só têm razão de existir por causa da inércia burocrática do aparelho do estado...
Uma decisão unilateral, evidentemente! Só podia ser unilateral se se pretendia decidir alguma coisa...

2 comentários:

  1. É, de facto, patético e ridículo, por várias razões.
    Primeiro, ninguém entende por que motivo os clubes beneficiam de favores especiais.
    Depois, porque os montantes que poderão vir a pagar de IMI são coisa pouca comparados com os ordenados de jogadores e treinadores.
    Surpresa? Decisão unilateral? Pressuposto defraudado? Direito adquirido?
    Então, e a punhalada que é a alteração à idade da reforma?

    Começa bem, o Hermínio !

    Já agora, gostaria que alguém explicasse por alma de quem as Câmaras (Soares, Sampaio, entre outros) oferecem aos clubes terrenos que eles se apressam a vender para encher os bolsos de dirigentes, empresários, jogadores e treinadores.

    Haja vergonha !!

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  2. Assalto por assalto - e os impostos são SEMPRE assaltos, mais ou menos "justificados" à bolsa dos cidadãos! - alguém me explica como vão pagar IMI os ESTÁDIOS MUNICIPAIS?
    E, se esses ficam isentos, qual é a moralidade?
    Façam-me só um desenho!!!

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