04 janeiro 2024

PAULO «ZIGUEZAGUE» RANGEL

Os políticos como Paulo Rangel constitui uma das estrelas inexplicáveis do circuito mediático muito específico das entrevistas. Provavelmente por serem muito palavrosos, os especialistas daquele sector da entrevista devem pressupor que quem assim fala, gongoricamente, tem opiniões próprias e que essas opiniões sejam fundamentadas, relevantes e consistentes. Nada de mais enganador. Recorrendo logo ao exemplo desta entrevista acima, hoje aparecida no Público, Rangel, quiçá porque se aproximam eleições e porque o visado da mais recente investigação escandalosa do MP é Luís Montenegro, deu-lhe para começar a estranhar «coincidências» e a especular se não há «mãos invisíveis» contra o líder do seu partido. É uma novidade! Ainda em Julho do ano passado, o mesmo Paulo Rangel, noutra entrevista, essa ao Observador, desalinhava da opinião que houvesse uma «perseguição ad hominen do MP» ao antecessor de Montenegro, Rui Rio (abaixo). Em menos de seis meses, Paulo Rangel muda de opinião em 180º, tendo apenas o cuidado de evitar contradizer-se nas palavras: Rangel estranha esta coincidência, não se lhe pergunte porque no Verão passado ele não estranhou a coincidência do MP ter publicitado a investigação a Rui Rio e ao PSD por uma prática que se admite ser comum a todos os partidos com representação parlamentar. Uma investigação apenas ao PSD e àquele que foi presidente do partido de 2018 a 2022.
Mas este será apenas um caso daquilo que eu considero que desqualifica as opiniões de Paulo Rangel por omissão e circunstancialismo. Para (o que parece ser) fazer um frete a Montenegro, Rangel admite agora aquilo que já há se afiguraria óbvio: a politização - por promoção mediática - de alguns inquéritos dos MP visando figuras políticas, em alturas politicamente convenientes. Contudo, um outro aspecto que desqualifica Rangel serão mesmo as suas opiniões. E como ele anda há muito tempo nisto de dar entrevista, tem muitas e são variadas. Que são (quase) sempre circunstanciais. Ou seja dependem das funções (poder ou oposição) que PSD e PS desempenhem na altura em que eles a pronuncia. Num apanhado muito sucinto que fiz, com apenas três exemplos de opiniões dele quanto - mesmo a propósito! - à actuação do MP, podemos recuperar um apelo seu de 2010 para que o presidente da altura (Cavaco Silva) interviesse por causa «da degradação da imagem da justiça», uma acusação de 2022 ao primeiro-ministro de então (António Costa) por colocar em causa a «autonomia do MP», rematando com uma opinião fresquíssima de anteontem (noutra entrevista!), admitindo «um reforço do escrutínio parlamentar» ao MP, i.e., por parte da Assembleia da República. Ou seja, ele houve opiniões para todos os gostos: presidente PSD (a favor), governo PS (contra), assembleia (talvez antes pelo contrário...). Isto tudo é apenas para comprovar que as opiniões de Rangel são uma palhaçada e como é estranho dedicar todo este tempo a prestar atenção a palhaços.

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