11 dezembro 2018

É SEMPRE UM «ORGULHO» TER UM PRESIDENTE QUE PROJECTA UMA IMAGEM INTELECTUALMENTE PRIMÁRIA DE SI PRÓPRIO

Os portugueses já passaram por uma experiência vagamente parecida quanto tiveram um presidente (Mário Soares) que estava convencido que falava bem francês. E vai daí... Os presidentes dos Estados Unidos, ao menos, não têm a pretensão de falar outros idiomas que não o seu. Mas os americanos passam agora por uma vergonha ainda pior quando o presidente deles comete erros de ortografia (mesmo em inglês!) quando escreve para o twitter. Desta vez foi escrever Smocking Gun (e logo por duas vezes!) quando se estava a referir a smoking gun (literalmente arma fumegante), empregue naquela circunstância com o sentido de prova indesmentível de delito. A letra c suplementar, inserida no meio da palavra pelo presidente (ou por alguém por ele), só por ter sido um erro de ortografia cometido por alguém de alto estatuto, está a ser pretexto para uma interessante discussão sobre semântica. O problema é o conceito algo indefinível e dificilmente traduzível da palavra smocking. Smock pode ser uma de várias peças de vestuário, enquanto smocking pode ser um de entre vários estilos de bordadura. De entre as várias abordagens para solucionar a controvérsia, esta pistola em croché pareceu-me ser a contribuição mais positiva (e visual) para a definição daquilo em que consistirá a tal smocking gun do presidente Trump.

3 comentários:

  1. Pensei que o título se referia a Bolsonaro...

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  2. Peregrino a Meca12 dezembro, 2018 17:18

    Dois comentários:
    1. Para felicitar. Tornei-me adicto do blogue, pelo que suponho que isso resulta do seu interesse e valor (pelo menos para mim)
    2. Para "nuançar" (o galicismo é intencional). De facto, como se pode ver pelo vídeo poe no link, a pronunciação francesa do Mario Soares era, pelo mínimo, particular. Agora, o seu nível de francês, pelo menos nesta entrevista é francamente alto. Bastante acima da media do francês de gema. Eu sei algo, vivi 8 anos em Paris. O vocabulário, a construção gramatical, o registo e a facilidade denotam um alto controle da língua. Até a pronunciação, certo direi mesmo execrável, é clara e não tira inatingibilidade ao discurso. Não que queira particularmente defender o Mario Soares, mas depois de uma vida a ouvir que o homem não falava francês, fui ver por curiosidade e fiquei bastante surpreendido.

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  3. Não discordo de si, Peregrino, quanto à análise que faz sobre o francês de Mário Soares. Só que, aquele nível, são coisas completamente distintas o emprego de um idioma estrangeiro como língua de trabalho em privado, dispensando tradutor, outra coisa é o seu uso em público.

    Portugal até é um país em que a opinião pública considera um "plus" (aqui vai o meu galicismo) que um político exiba o seu domínio de um idioma estrangeiro. (Há outros países em que acontece o contrário - ex. Espanha). Mas aquilo que Soares ganharia ao exibir em público essa sua competência, perde-se notoriamente por causa do seu deplorável sotaque, algo que ele parece nunca ter compreendido. Por outro lado e para contraste, Mário Soares "não apanhava uma" de inglês o que foi motivo para a contratação do intérprete (hoje famoso por outras razões) Rui Mateus.

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