Felizmente, depois de ter corrido grandes perigos, Portugal parece ter escapado por agora ao fiasco europeu dos comboios de alta velocidade, e isso apesar do empenho de José Sócrates e dos seus governos. A Europa até se podia dispor a financiar a quase totalidade do investimento (95%, diziam eles...), mas os resultados de exploração de quem os tinha (como a França) mostravam inequivocamente quanto o risco era enorme de que tudo não resultasse em mais uma - dispensável - catástrofe financeira. Era uma daqueles prendas que, mesmo que nos fosse dada, havia de sair-nos cara... Hoje, parece um assunto encerrado ou, quanto muito e por razões de decoro, pontapeado para voltar a ser discutido com os espanhóis no dia de são nunca à tarde. Ainda há um punhado de meses, o novo líder do PP espanhol, Pablo Casado, mostrou a sua (menos) valia política (mesmo acabado de eleger), ao adicionar o assunto do TGV Lisboa Madrid ao encontro que teve com Rui Rio (que lhe respondeu, naturalmente e como Costa havia feito com Rajoy, mandando o assunto para o tecto). Note-se que um dos equívocos mais patentes quando se tratou deste assunto entre os seus entusiastas em Portugal e em Espanha era a nuance do discurso, com os espanhóis, prosaicos, a falar da ligação por TGV entre Lisboa e Madrid, e os nossos, visionários, a quererem ligar-se «às capitais europeias». E é a propósito desse equívoco que vale a mostrar uma daquelas evidências geográficas, que se baseia até num mapa do Ministério do Fomento espanhol onde estão realçados aqueles que eles consideram ser os principais eixos da sua rede viária doméstica (acima). Os meus acrescentos são duas setas pretas no canto superior direito, que destacam os dois eixos principais das ligações de Espanha com França, contornando a cordilheira dos Pirenéus que as separam. Sendo o eixo de Ocidente o mais próximo de Portugal, será por aí que se devem estabelecer as nossas ligações mais rápidas com as capitais europeias (plural): não apenas com Madrid, mas sobretudo com Paris, Bruxelas, Londres, Berlim, Roma... Mas agora repare-se nos três corredores de aproximação (vindos do Porto, de Lisboa e Faro) que eu tracei, vindos de Portugal: nenhum deles passa por Madrid. As nossas mais eficazes ligações terrestres com a Europa não passam - nunca passaram... - por Madrid. Todavia, na perspectiva do outro lado, uma perspectiva que até é mais castelhana que espanhola, o que para eles é prioritário é completar até ao mar a conexão que, no mapa acima, vinda de Madrid, se detém em Badajoz, reforçando com isso a centralidade madrilena. Como acima se pode observar, para eles, Madrid representa o centro de toda a conectividade de Castela com os litorais (e nós somos mais um). Por isso, em toda esta embrulhada história dos TGV, cujo principal traçado nunca ficou bem definido, se a ideia é fazer (mais) um TGV de Lisboa a Madrid a preocupação é deles e a prioridades é deles - já que, até agora, os prejuízos inerentes a todas as outras ligações também o foram... Estamos bem assim. Mas sobretudo, antes de voltarem a discutir o assunto, não o façam no ar e olhem para os bonecos!
Sem comentários:
Enviar um comentário