16 de Novembro de 1988. Só hoje se consegue perceber o quanto a edição do Diário de Lisboa daquele dia continha, disseminada pelas páginas interiores, a sugestão de que se vivia um crepúsculo do comunismo, como ele fora concebido internacionalmente nos últimos setenta anos e vivido em Portugal nos últimos catorze. Na segunda página, sobre a política doméstica, o jornal obrigara-se a publicitar a publicação da obra em que se explicava aquela que se tornara na mais famosa dissidente comunista portuguesa até então: Zita Seabra. Nas páginas centrais, dedicadas aos assuntos internacionais, o panorama era desolador para as hostes comunistas: discutia-se o calendário para a retirada cubana de Angola; o governo pró-soviético do Afeganistão pedia uma reunião urgente do conselho de segurança da ONU (ninguém consultara a ONU aquando da invasão soviética, pois não?...); mas a notícia mais sacrílega era o anúncio que o parlamento da (República Socialista Soviética da) Estónia «ia analisar uma "declaração de soberania" face à União Soviética», sinal que a estrutura da própria União Soviética começara a ranger.
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