Mais do que eles possam significar em termos de melhoramento da vida dos norte-americanos em geral, o que me está a irritar nestes dias é a forma distorcida, para consumo político, como os números do desemprego estão a ser brandidos - no caso da Fox News acima, por exemplo - na campanha que está em curso nos Estados Unidos para as próximas eleições de dia 6 de Novembro. Os valores de 3,7% são excelentes, indicadores que já não eram alcançados há muitas décadas, mas, depois de se ter instalado a ideia desde há 25 anos que «It's the Economy, stupid!" (e que terá valido a vitória a Bill Clinton em 1992), parece ter-se atingido o excesso oposto, a de que tudo de essencial se resumirá à economia, stupid. O que talvez seja, por sua vez, tão estúpido quanto esquecer a economia. Os combates políticos travam-se à volta de outros assuntos, que não apenas indicadores económicos. Tanto assim que, se recuarmos precisamente 50 anos, iremos encontrar uma taxa de desemprego ainda melhor do que a actual (3,4%), o que não impediu que os democratas - que até aí ocupavam a Casa Branca - perdessem a eleição presidencial de 1968 para os republicanos (presumivelmente por causa das controvérsias da questão do Vietname). E, se a situação do desemprego fosse assim tão decisiva, a taxa do mesmo que se verificava quatro anos depois (um agravamento para 5,6%), teria prejudicado a reeleição do candidato eleito quatro anos antes - Richard Nixon. Mas não, pelo contrário, essa sua outra vitória do Outono de 1972 foi esmagadora. No Outono de 1980, o crescimento da mesma taxa para os 7,5% poderia ter servido de explicação para a derrota do presidente democrata em exercício, Jimmy Carter, frente ao republicano Ronald Reagan. Poderia... mas não serve porque, quatro anos passados e com a taxa de desemprego ainda a registar uns pujantes 7,4%, o mesmo Ronald Reagan é reeleito de forma triunfal!
Todos estes exemplos históricos mostram que o estado de espírito da América política pode nada ter a ver com o que os indicadores nos dizem sobre a situação do seu bem estar material. Contudo, o argumento é papagueado e desmentido como se fosse para levar a sério, como se não houvesse tempo nem conhecimento para o desmontar com os factos. O Trump Boom que os seus apoiantes apregoam pode não servir para nada dentro de dias, ou então e a contrário, não se pode excluir que a prevalência de Donald Trump se poderá dever à ideologia do que à economia. A imagem que cá chega à Europa nos dias que correm é a de uma América progressivamente mais tensa entre as suas facções, apesar do conforto relativo de alguns daqueles indicadores económicos. Compreende-se que não sirvam para muito quando o inquilino da Casa Branca tem o estilo truculento que tem. Mas os americanos também deviam saber que, se elegeram um presidente daqueles, isso ia, necessariamente, arrastar consigo consequências. Uma delas é que, no dia seguinte às eleições, e aconteça o que acontecer nelas, os Estados Unidos vão continuar a deparar-se com os mesmos problemas de antes, cortesia de Donald Trump.
Sem comentários:
Enviar um comentário