7 de Novembro de 1938. Noticiava-se as eleições polacas do dia anterior: «A proporção de votantes foi cerca de 60% (...) ¾ dos candidatos pertenciam à União Nacional e a oposição não teve praticamente nenhum candidato (...) Os círculos governamentais declararam-se satisfeitos com os resultados (...) O resultado das eleições (...) não determinará nenhuma mudança notável no curso da política interna da Polónia.» Como se percebe, recordando um poste que aqui publicámos há poucos dias, a Polónia de há oitenta anos estava, como acontecia com Portugal, muito longe de ser um regime democrático. Isso em si não pode ser invocado para atenuar o repúdio pela agressão alemã que viria a ter lugar dali por menos de um ano, mas reconheça-se que perturba fortemente a reputação do país como vítima, para mais quando se esclarece que a dita União Nacional (curioso nome, não?) adoptara um conjunto de teses sobre a questão judia que se inspiravam nas famosas Leis de Nuremberga dos seus vizinhos alemães. A Polónia de 1939 deve ser vista mais como uma vítima das ambições implacáveis de Adolf Hitler e da sua localização geográfica, do que propriamente objecto da hostilidade ideológica da Alemanha nazi, como acontecia com os vários países verdadeiramente democráticos da Europa Ocidental, que se engajaram na Segunda Guerra alegando defendê-la - à Polónia, à democracia, mas sobretudo aos equilíbrios europeus. E se a natureza dos regimes desses países atacados à época pela Alemanha, pela Itália (Grécia) e pela União Soviética (países bálticos) é recorrente e convenientemente esquecida, isso acontece não apenas por questões de propaganda circunstancial. A verdade é que, ao contrário de um certo discurso que insiste em perpetuar-se, as ditaduras atacaram-se umas às outras porque elas nunca foram internacionalistas e coordenadas como os comunistas o foram. Muitos dos países da Europa de Leste tiveram este passado durante o período de entre guerras (1919-1939)... e prolongaram-no depois em ditaduras comunistas (1945-1989) pelos quarenta anos que se seguiram. Surpreendermo-nos actualmente com a natureza das democracias numa Polónia ou numa Hungria será uma constatação desagradável, mas apenas surpreendente para quem desconheça as histórias do século XX daqueles países do Leste Europeu.
Sem comentários:
Enviar um comentário