04 novembro 2018

A MORTE DE WILFRED OWEN

4 de Novembro de 1918. Há cem anos morria em combate o tenente Wilfred Owen (1893-1918) durante a Batalha do Sambre. A Grande Guerra estava a uma semana do seu término, mas isso não sabiam ele e os homens do seu pelotão que nesse dia se dispuseram a atravessar o canal que liga o Sambre ao Oise sob fogo inimigo. O tenente Owen ficou mais conhecido como poeta de guerra. Já aqui publiquei um poema seu na versão original. Hoje, atrevi-me a traduzi-lo.


Encolhidos, quais mendigos velhos envergando sacos,
Arrastando os pés, tossindo compulsivamente, atravessamos o lamaçal,
Virando costas à luz bruxuleante dos sinalizadores
E começámos a caminhada para a retaguarda distante.
Homens marchavam adormecidos. Muitos haviam perdido as suas botas
Mas lá continuavam, pés em sangue. Tudo seguia alquebrado; cego;
Bêbado de fadiga; surdo e desinteressado para o rugido
Dos obuses de gás que discretamente explodiam lá para trás.

Gás! GÁS! Rápido, malta! – O alívio de conseguir ajustar, atabalhoadamente, aquelas máscaras desajeitadas a tempo;
Mas alguém urrava e caindo,
Debatia-se como se estivesse em chamas ou sob cal viva...
Embaçado, através das enevoadas lentes da máscara e de uma grossa luz verde;
Como se estivesse debaixo de um mar verde, vi-o a afogar-se.

Em todos os meus sonhos e diante de meus olhos impotentes,
Ele atira-se a mim, sorvendo o ar, asfixiando-se, afogando-se.

Se, em algum sonho sufocante, também pudesses ali estar
Por detrás da carroça em que o arremessamos.
E observasses os olhos brancos contorcidos na sua face,
A sua cara dependurada, como a de um demónio que se cansara de pecar.
Se pudesses ouvir, a cada solavanco, o sangue
Gargarejar espumoso dos seus pulmões corrompidos,
Obsceno como um cancro, amargo como a bílis regurgitada que provoca feridas incuráveis em línguas que não têm culpa alguma.
Meu amigo, não irias, com tão grande zelo, contar
A crianças ansiosas por alguma glória desesperada,
A velha Mentira: Dulce et decorum est pro patria mori.

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