12 novembro 2018

A GREVE GERAL NA SUÍÇA E A «SEMANA VERMELHA» NA HOLANDA

12 de Novembro de 1918. Na Suíça, um comité revolucionário convoca uma greve geral. A questão peculiar neste evocação não é a greve geral. É o facto de a greve ter ocorrido na Suíça e logo no dia seguinte à assinatura do armistício que pusera fim à Grande Guerra. A Suíça fora um país que permanecera neutral, não existia a comoção da derrota que costuma servir de explicação histórica aos movimentos revolucionários que eclodiram simultaneamente por toda a Alemanha. E contudo, a sua classe operária, especialmente nos cantões alemães reagiu desta forma, abstraindo-se das notícias da conclusão do conflito. Cerca de 250.000 trabalhadores aderiram à paralisação, um dos sectores mais afectados foi o ferroviário, um sector crucial naquelas circunstâncias em que a agilidade dos abastecimentos alimentares era uma pedra-de-toque da disposição das opiniões públicas. Mas note-se também, e porque a Suíça se mantivera afastada dos combates, que os militares não haviam sofrido o desgaste que ocorrera entre os beligerantes. As imagens oficiais dos acontecimentos transmitem-nos uma imagem de força, com 100.000 soldados nas ruas e nos pontos nevrálgicos (acima e abaixo). O desfecho acabou por ser favorável às autoridades federais. A greve durou 48 horas. Depois dela, mais de 3.500 grevistas foram presentes a tribunal militar, uma apreciável percentagem deles empregados dos caminhos de ferro, embora menos de 5% (147) fossem condenados.
Nesse mesmo dia 12 de Novembro e noutro país que também permanecera neutral, os Países Baixos (Holanda), o primeiro-ministro Ruijs de Beerenbrouck (abaixo, à direita) tentava amenizar o ambiente tenso que o país atravessava, com o anúncio do aumento da quantidade da ração de pão de 200 para 280 gramas/dia. Na Holanda vivia-se então a Semana Vermelha (De Roode Week no original - 9 a 14 de Novembro de 1918), uma tentativa dos socialistas locais (22% do parlamento), dirigidos por Pieter Jelles Troelstra (abaixo, à esquerda), para desencadearem uma acção insurrecional, ao bom jeito do que acontecera no ano anterior na Rússia. Também na Holanda, um exército que não sofrera o desgaste dos combates foi utilizado para enfrentar os revolucionários que, afinal, eram bem menos do que se pensara dos dois lados. Num daqueles combates pela memória como os acontecimentos vêm a ser evocados no futuro, a Semana Vermelha foi rebaptizada de Erro de Troelstra (Vergissing van Troelstra), como se tudo não tivesse passado de um erro de avaliação do líder socialista holandês, o que as evidências sugerem não ter sido bem o caso... Estes dois casos, que vemos muito raramente referidos, ambos ocorridos em países que haviam permanecido neutrais, mostram claramente que o ambiente social tenso que se vivia na Europa no Outono de 1918 transbordava dos países beligerantes para o resto do continente.

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