A China é o maior país do mundo. Com uma população estimada em 1.330.000.000 habitantes, em qualquer descrição que dela se queira fazer, há que recorrer necessariamente a simplificações para aquelas situações em que não se possa entrar em detalhes, como será o caso das notícias. Mas convém que essas simplificações não se tornem demasiado simples que distorçam ou esqueçam aspectos que depois se tornem cruciais para aquilo que é o objecto da notícia, como acontece com uma notícia do Público a respeito dos recentes acontecimentos em Urumqi, no Xinjiang, que caracteriza os uigures como uma etnia muçulmana de ascendência turca. Ora as etnias resultam de classificações culturais de que a religião é apenas um dos aspectos(*)…
Acontece que a China presta até uma desmesurada atenção às suas minorias étnicas, muito superior ao seu peso proporcional (ligeiramente menor que 10%) em relação ao total da população. Há 55 minorias devidamente reconhecidas, e uma das interpretações do significado da bandeira chinesa (acima) estabelece que a estrela maior se refere aos chineses Han, que constituem a maioria da população enquanto que as quatro estrelas menores simbolizam as quatro minorias principais: manchu, uigur, mongol e tibetana. Doutra forma, ao observarmos uma nota chinesa de 1 yuan, poderemos reparar que no verso e no canto superior direito (clicar em cima da gravura abaixo), por debaixo do alfabeto latino, a designação da nota aparece escrita nos outros quatro alfabetos.
Portanto, pelo menos do ponto de vista formal, as preocupações com as minorias étnicas por parte de Pequim são inquestionáveis e crê-se que ultrapassarão mesmo mais do que o formalismo: a decisão do Presidente Hu Jintao de cancelar o seu programa, incluindo a presença na Cimeira do G8 parece prova disso. Mantendo as escalas, e adaptando, na medida do possível, o gesto à realidade portuguesa, é improvável que Cavaco Silva ou José Sócrates cancelassem um programa de visitas oficiais por causa de conflitos urbanos como aqueles que ocorreram o ano passado em Loures… E, contudo, extintos os conflitos que chamaram a atenção dos transumantes para Urumqi, que é que mais se poderá escrever de substancial quanto às suas causas profundas?
Como já haviam feito os russos a respeito da Chechénia, uma das manobras como a China reagiu aos acontecimentos, parece ser a de querer dar importância ao aspecto religioso da questão – os uigures são predominantemente muçulmanos. Como em todos os conflitos, haverá provavelmente os extremistas próximos da Al-Qaeda prontos a usar a carta do Islão, mas a questão nuclear em disputa será sobretudo uma questão de nacionalidades. Na sua essência, e por muito que isso pareça paradoxal num estado que se reclama da ideologia marxista-leninista, ideologia que, recorde-se, já havia superado todos esses problemas, o que aconteceu em Urumqi foram as manifestações de reacção dos uigures ao imperialismo dos chineses Han, num verdadeiro quadro neo-colonial…(*) – Por exemplo, na Irlanda do Norte, o conflito que há anos ali opõe os Protestantes aos Católicos, não pode ser classificado propriamente de conflito inter-étnico…
(**) – Já aqui tinha tido oportunidade de colocar um poste sobre uma disputa entre Xangai e Pequim a respeito do idioma de dobragem dos desenhos animados de Tom e Jerry que passavam na televisão de Xangai.
Oportuno e excelente post.
ResponderEliminarHá uma outra questão que se coloca é que se os chineses forem atrás do "seu" Bin Laden não estou a vê-los com aquelas preocupações dos danos colaterais.
ResponderEliminarAliás com o Paquistão e com Urumqui se os muçulmanos quiserem guerra poderão sofrer um massacre que alguma potencia ocidental (EUA) faria.