
Na sequência dos
incidentes de Urumqi, as agências noticiosas apressaram-se
a enviar os seus jornalistas para lá e, à falta de mais
frescas, fotografias como a de cima, tirada na Praça Tiananmen de Pequim em 5 de Junho de 1989, são retiradas dos arquivos para enfeitar as peças entretanto escritas a respeito
da brutalidade das autoridades chinesas. Porém, já ninguém parece dar importância
ao que se passa no Irão, a Ahmadinejad ou a Rafsanjani…

Parece existir uma espécie de
transumância das indignações, que se alimenta das repressões dos estados autoritários (
alguns não...), e que tão depressa está em Rangoon na Birmânia quanto se muda para Teerão no Irão ou se instala em Urumqi na China, como é o caso actual. Onde chegam é preciso que haja uma enorme
riqueza de imagens para se produzirem opiniões tão
assertivas quanto
indignadas, normalmente assentes numa enorme
superficialidade de análise.

As consequências deste estilo de tratamento noticioso podem ser facilmente percebidas num par de exemplos. Se, a propósito dos acontecimentos de Tiananmen de há 20 anos, o reconhecimento da fotografia inicial deste
poste é quase automático, quantos chegaram a compreender depois a importância do papel motivador dos estudantes por parte de
Zhao Ziyang (acima) que os
usou para a sua luta interna dentro das estruturas do Partido Comunista Chinês?...

Ou então, vamos supor que a fotografia já fora inventada em 1789 e que os acontecimentos de 14 de Julho desse ano em Paris eram devidamente cobertos por repórteres fotográficos… Possivelmente e pelos padrões actuais da relevância jornalística, a fotografia emblemática da
Tomada da Bastilha, arriscar-se-ia a ser – como se vê na gravura acima – a da cabeça do seu último governador, o
Marquês de Launay, pendurada da ponta de uma lança...
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