13 julho 2009

ÁSIA CENTRAL

Ainda a respeito dos acontecimentos do Xinjiang e no quadro de uma muito sumária análise geoestratégica daquela enorme região (com 1 646 800 km² ela é equivale a 1/5 de todo o Brasil e é maior que Angola), vale a pena adicionar uma reflexão baseada nuns Atlas de uma excelente colecção francesa (La Découverte). Existem dois volumes para a Ásia, um denominado Atlas des Peuples d´Orient (acima) e outro Atlas des Peuples d´Asie (abaixo). Como se pode observar pelos dois mapas, o Xinjiang é mencionado em ambos.
As causas para tal são fáceis de explicar: embora o Xinjiang pertença a um país de povos da Ásia, os povos do Xinjiang propriamente dito pertencem ao Oriente. As percepções estratégicas de toda aquela Grande Região da Ásia Central parecem continuar condicionadas pelas fronteiras que existiam no tempo da Guerra-Fria. É demasiado frequente o recurso à expressão as antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central como se elas ainda fossem e se comportassem como um bloco, sem rivalidades internas…
Em termos culturais e étnicos, é evidente que as repúblicas nunca foram esse bloco, senão a organização política soviética seria diferente, e, em termos políticos, há 20 anos que deixaram de funcionar assim. O que fará sentido considerar é que existem sete realidades políticas distintas naquela Grande Região: o Afeganistão, as tais antigas repúblicas soviéticas Cazaquistão, Quirguízia, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão – e o antigo Turquestão Oriental, cuja designação foi entretanto sinizada para Xinjiang.
Embora historicamente se deva considerar a Ásia Central como o grande foco de expansão dos Impérios nómadas na Eurásia, ela também está, por sua vez, sujeita a uma constante pressão económica e cultural das potências sedentárias da vizinhança. A mais recente a ali chegar, vinda do Norte e do Oeste, foi a hegemónica até 1989. Agora está em recessão e a comunidade russa nas cinco repúblicas do Império soviético, que ultrapassava os dez milhões de pessoas há vinte anos atrás, está hoje reduzida a metade disso.
Pelo contrário, a comunidade chinesa, instalada no Xinjiang e vinda de Leste, aumentou cerca de 50% nesses mesmos vinte anos. São agora nove milhões e é a resistência à sua imigração que estará, muito provavelmente, por detrás dos recentes acontecimentos de Urumqi. Mas estas (a chinesa e a russa) são as pressões mais recentes, que ainda se percebem pelo número dos seus naturais instalados na região. As outras pressões, de origem meridional, são muito mais antigas, milenares mesmo, e exprimem-se de uma outra forma.
Não faz sentido contabilizar as comunidades iraniana ou indiana-paquistanesa da Ásia Central. O que existe é uma identificação comunitária entre algumas das nacionalidades pertencentes à região com as suas homólogas que vivem do outro lado das fronteiras. É o que acontece no caso dos pashtun que vivem tanto no Afeganistão como no Paquistão (ver mapa acima), e é também o que acontece com os tajiques e outros povos de língua persa instalados no mesmo Afeganistão e no Tajiquistão (ver mapa abaixo).
Contudo, a maioria das populações da Ásia Central são culturalmente turcas, pretexto que costuma ser invocado por uma quinta potência sedentária, a Turquia, para se envolver nos assuntos da região, como fez de resto também a propósito dos acontecimentos de Urumqi, que o seu Primeiro-Ministro classificou de genocídio. Embora seja das mais legítimas, porque está geograficamente longe e porque não dispõe de meios efectivos de intervenção no terreno, a pressão turca é a que tende a ser a mais histriónica (abaixo).

2 comentários:

  1. Que o sr. Vital tenha desaparecido da cena audiovisual desde que partiu para os Açores com uma mala cheia de lágrimas eleitorais, percebe-se. Mas que o António Teixeira tenha deixado de invocá-lo no subtítulo do seu blogue, parece-me uma crueldade. Risos!!!

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  2. O insulto de Vital a que o António Marques Pinto se refere, e que tanto orgulho me causava, já não era o subtítulo original, outro insulto por sinal, porque decidi de quando em vez renová-lo.

    Desta vez é um "piscar de olho" a uma certa sociologia "em pó", instantânea como as gelatinas Royal, daquelas a que basta adicionar água.

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