27 julho 2009

A HISTÓRIA DE LENINEGRADO EM CONTINUAÇÃO

(Este poste é a resposta a um pedido desta caixa de comentários)
Considerado o seu valor simbólico como cidade-mártir e resistente por 900 dias às investidas do nazismo, imediatamente depois do fim da Segunda Guerra Mundial um conjunto impressionante de recursos foi afecto à reconstrução de Leninegrado. Uma das realizações mais significativas foi a abertura de Museu evocativo do Cerco a que a cidade estivera sujeita.

Quanto à equipa dirigente que havia dirigido Leninegrado de uma forma forçosamente autónoma durante quase três anos (1941-44), Estaline, desconfiado como sempre, chamara-a, a pretexto do seu sucesso, para Moscovo, para junto de si. Zhdanov era considerado em 1946 como uma das principais figuras secundárias do estado soviético logo a seguir a Estaline.
Kuznetsov viera de Leninegrado com Zhdanov e substituíra Beria à frente do KGB. O economista Voznesensky tornara-se a vedeta em ascensão nos órgãos de planificação da reconstrução económica da União Soviética no pós-guerra. Enquanto isso, o prestígio de Zhdanov era usado para dar consistência a uma nova doutrina para as artes, condenando os excessivos formalismos burgueses.

Toda essa ascensão do clã de Leninegrado veio a desmoronar-se em 1948, minada pelos rivais de Zhdanov, como Malenkov e Beria, que não deixaram de intrigar contra ele junto de Estaline. Na Primavera desse ano, o filho de Zhdanov, Yuri foi publicamente criticado por graves erros ideológicos. Mas não era difícil descobrir quem se pretendia atingir com aquelas críticas…
Já em plena fase descendente, em Agosto de 1948, Zhdanov morreu na sequência de um enfarte cardíaco. Mas, como consta do refrão da Balada da Rita de Sérgio Godinho(*), esse foi o que acabou de maca, porque os outros – Kuznetsov, Voznesensky, Popkov, Lazutin, Rodionov – foram os que acabaram ainda mais deitados(**), o coveiro que o diga

Nos finais de 1950 a organização local do Partido Comunista da União Soviética em Leninegrado fora devidamente purgada e cerca de 200 militantes destacados haviam sido presos ou exilados. Em paralelo, talvez para que as pessoas usufruíssem de ainda mais amplas liberdades democráticas, o Museu evocativo do Cerco (abaixo) foi encerrado. Só veio a ser reaberto 40 anos depois…
(*)
Andei com homens de faca, põe-te em guarda
Vivi com homens safados, põe-te em guarda
Morei com homens de briga, põe-te em guarda
Uns acabaram de maca
E outros ´inda mais deitados
O coveiro que o diga...
(**) - Mortos a tiro, neste caso fuzilados.

1 comentário:

  1. Como sempre, deveras elucidativo. E não foi assim tão inesperado como isso. Nessa época era o pão nosso de cada dia!
    Beijos.

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