Mau grado a ascendência georgiana de José Staline (que se chamava verdadeiramente Iosif Vissarionovich Djugashvili, 1878-1953) e apesar da Geórgia ser um país com uma história antiquíssima (desde há cerca de 4 mil anos), os georgianos sempre representaram menos de 2% da população total do Império Soviético. Mas, por efeito daquela cadeia de relacionamentos pessoais que é omnipresente em todos os regimes, os georgianos encontravam-se naturalmente sobre representados entre os órgãos dirigentes soviéticos durante o período de Staline.
Uma dessas figuras foi Lavrentiy Beria (1899-1953), um protegido do ditador, que emergiu em 1938 como o dirigente de confiança de Staline para todo o enorme aparelho repressivo da União Soviética (NKVD). Anteriormente, com Genrikh Yagoda (1934-36) e com Nikolai Yezhov (1936-38) à frente do NKVD, Staline criara o conceito (um pouco capitalista…), de torcionário mor descartável, ou seja, os responsáveis máximos pelas enormes purgas do aparelho que ele próprio ordenara eram rotineiramente substituídos, com o sucessor a submeter o antecessor ao mesmo tratamento dado às vitimas.
Terá sido por causa do engenho demonstrado por Beria ou apenas atribuível à mudança das circunstâncias (Segunda Guerra Mundial?), a verdade é que o georgiano escapou à lógica implacável dos dois anos de poder seguidos de desaparecimento e execução que afectara os seus dois antecessores imediatos. Muito à semelhança do que acontecia com Heinrich Himmler e a SS na Alemanha nazi, Beria tornou-se tão temido quanto desprezado entre os círculos do alto poder soviético porque não se lhe reconheciam qualidades intrínsecas que o tivessem projectado para o lugar que ocupava, a não ser uma fidelidade canina ao líder máximo.
A animosidade de sempre contra a pessoa de Beria ainda pode ser percebida num filme datado de 1991, ano do ocaso da União Soviética, e chamado O Círculo do Poder (The Inner Circle), realizado nos Estados Unidos por Andrei Konchalovsky, que retrata o círculo intimo do ditador a partir da visão do seu projeccionista de filmes (Staline era um cinéfilo). À falta de oportunidade de outra forma de atribuir no filme traços de carácter desagradáveis a Beria (Beria não se envolveria pessoalmente na violência exercida pelo NKVD), evocam-se os seus alegados – e crê-se que verdadeiros - vícios privados de pedofilia com rapariguinhas jovens.
Reconheça-se a Beria a habilidade de ter conseguido evoluir durante 15 anos como cortesão de uma corte de um déspota particularmente desconfiado, para mais conseguindo manter concentrado em si o poder de uma descomunal máquina repressiva composta por milhões de agentes (e ainda mais milhões de vítimas…). Com a morte de Staline, em Março de 1953, Beria tornou-se nitidamente o homem a abater, provocando uma coligação negativa de todos os outros ambiciosos: Malenkov, Molotov, Bulganin e Khrushchev. Em Junho Beria era preso e em Dezembro morria, fuzilado.
Num dos mais caricatos episódios de revisionismo histórico, daqueles que só na União Soviética se conseguiam inventar, todos os proprietários da Enciclopédia Soviética que puderam ser referenciados – incluindo os que residiam no estrangeiro – receberam uma folha adicional para substituir outra, num determinado volume da Enciclopédia, conforme era explicado numa carta que a acompanhava. Na nova folha, tinha desaparecido qualquer referência a Lavrentiy Beria. Em contrapartida, o artigo referente ao navegador de origem dinamarquesa Vitus Bering, que havia descoberto o Estreito e o Mar que têm hoje o seu nome ao serviço da Rússia, continha agora uma biografia que não descurava qualquer pormenor…
Uma dessas figuras foi Lavrentiy Beria (1899-1953), um protegido do ditador, que emergiu em 1938 como o dirigente de confiança de Staline para todo o enorme aparelho repressivo da União Soviética (NKVD). Anteriormente, com Genrikh Yagoda (1934-36) e com Nikolai Yezhov (1936-38) à frente do NKVD, Staline criara o conceito (um pouco capitalista…), de torcionário mor descartável, ou seja, os responsáveis máximos pelas enormes purgas do aparelho que ele próprio ordenara eram rotineiramente substituídos, com o sucessor a submeter o antecessor ao mesmo tratamento dado às vitimas.
Terá sido por causa do engenho demonstrado por Beria ou apenas atribuível à mudança das circunstâncias (Segunda Guerra Mundial?), a verdade é que o georgiano escapou à lógica implacável dos dois anos de poder seguidos de desaparecimento e execução que afectara os seus dois antecessores imediatos. Muito à semelhança do que acontecia com Heinrich Himmler e a SS na Alemanha nazi, Beria tornou-se tão temido quanto desprezado entre os círculos do alto poder soviético porque não se lhe reconheciam qualidades intrínsecas que o tivessem projectado para o lugar que ocupava, a não ser uma fidelidade canina ao líder máximo.
A animosidade de sempre contra a pessoa de Beria ainda pode ser percebida num filme datado de 1991, ano do ocaso da União Soviética, e chamado O Círculo do Poder (The Inner Circle), realizado nos Estados Unidos por Andrei Konchalovsky, que retrata o círculo intimo do ditador a partir da visão do seu projeccionista de filmes (Staline era um cinéfilo). À falta de oportunidade de outra forma de atribuir no filme traços de carácter desagradáveis a Beria (Beria não se envolveria pessoalmente na violência exercida pelo NKVD), evocam-se os seus alegados – e crê-se que verdadeiros - vícios privados de pedofilia com rapariguinhas jovens.
Reconheça-se a Beria a habilidade de ter conseguido evoluir durante 15 anos como cortesão de uma corte de um déspota particularmente desconfiado, para mais conseguindo manter concentrado em si o poder de uma descomunal máquina repressiva composta por milhões de agentes (e ainda mais milhões de vítimas…). Com a morte de Staline, em Março de 1953, Beria tornou-se nitidamente o homem a abater, provocando uma coligação negativa de todos os outros ambiciosos: Malenkov, Molotov, Bulganin e Khrushchev. Em Junho Beria era preso e em Dezembro morria, fuzilado.
Num dos mais caricatos episódios de revisionismo histórico, daqueles que só na União Soviética se conseguiam inventar, todos os proprietários da Enciclopédia Soviética que puderam ser referenciados – incluindo os que residiam no estrangeiro – receberam uma folha adicional para substituir outra, num determinado volume da Enciclopédia, conforme era explicado numa carta que a acompanhava. Na nova folha, tinha desaparecido qualquer referência a Lavrentiy Beria. Em contrapartida, o artigo referente ao navegador de origem dinamarquesa Vitus Bering, que havia descoberto o Estreito e o Mar que têm hoje o seu nome ao serviço da Rússia, continha agora uma biografia que não descurava qualquer pormenor…
É sempre bom relembrar a História.
ResponderEliminarparabéns pelo seu blog.
Gostei do artigo. Bastante
ResponderEliminar:)
Um especial obrigado, ao João Moutinho e à Cristina, pelos vossos comentários.
ResponderEliminarSugeria ao Sr. Arlindo Mota que lesse este "post" para perceber o que significa insinuar determinadas coisas. É que uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa!!
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