09 dezembro 2006

ALGUNS SÍMBOLOS DA GUERRA-FRIA – 2

OS VOOS ESPACIAIS TRIPULADOS
Convém começar por especificar que a frenética corrida espacial que se travou durante as década de 60 e na primeira metade da de 70 entre soviéticos e norte-americanos se baseia num subproduto do desenvolvimento técnico da sua capacidade de desencadear um ataque nuclear de surpresa sobre o inimigo ou, caso sofrendo esse ataque, manter ainda a capacidade de retaliar de forma maciça.

Os foguetões que colocaram os primeiros tripulantes em órbita terrestre, como o R-7 soviético (acima) ou o Titan II norte-americano (em baixo), foram concebidos originalmente como mísseis balísticos com um alcance de dez a quinze mil quilómetros – portanto capazes de atingir o território inimigo – transportando pesadas cargas nucleares.
Como curiosidade, repare-se, observando as duas fotografias, como difere a solução encontrada pelos dois lados para que o veículo fosse perdendo em voo o peso desnecessário dos depósitos de combustível já utilizados: enquanto nos norte-americanos eles estão dispostos em andares, nos soviéticos eles estão dispostos em feixe, à volta do corpo central. Na fase final do seu voo, os foguetões dos primeiros estariam mais pequeninos, enquanto os dos segundos seriam mais magrinhos.

O que é importante para esta história é que, alterando-se o tipo de carga do veículo e a sua trajectória se podia empregá-los para colocar cargas em órbita. E, para efeitos de propaganda, cedo se descobriu (desde 1961) qual o efeito tremendo à escala mundial que se podia obter em prestígio quando essa carga era humana e o voo tripulado (embora, ao princípio, o tripulante tripulasse muito pouco).
E, quanto às naves tripuladas, havia as configurações adoptadas por soviéticos que se podem ver acima, por ordem de antiguidade, recreadas em kit e identificadas como se tratasse das horas de um relógio: Vostok (às 11H), Voskhod (às 9H) e Soyuz (às 4H). Estas diferiam substancialmente em concepção e desenho ao das suas congéneres contemporâneas norte-americanas (em baixo, em desenho e também por ordem de antiguidade, já identificadas: Mercury, Gemini e Apollo).
O enredo da história é relativamente conhecido, porque tem um final feliz para os norte-americanos que adoram os happy end: o presidente Kennedy estabeleceu uma meta – pousar um homem na Lua até ao final da década de 60 – os soviéticos aceitaram tacitamente o desafio, que os norte-americanos venceram sem contestação em 20 de Julho de 1969.
A esta distância no tempo pode perceber-se facilmente quanto houve de pueril no descomunal sacrifício de recursos das duas superpotências na disputa de um objectivo que se revelou ser apenas de prestígio. As viagens à Lua não apresentaram nem um retorno económico, nem sequer em conhecimentos científicos que justificasse racionalmente o investimento feito para ali chegar. A prova mais clara desse enorme desperdício estará na observação que nos 34 anos que se seguiram à última estadia na Lua originalmente programada, mais ninguém lá voltou…

Mas a época áurea desta disputa parece ter terminado bem e mesmo com uma espécie de celebração, através de um voo conjunto Apollo-Soyuz em Julho de 1975 (ver poste imediatamente abaixo), bem enquadrado no espírito de coexistência pacífica que se pretendia para as assinaturas da Conferência de Helsínquia no mês seguinte.

2 comentários:

  1. Se bem me recordo, esta administraçõa americana reeditou a ida à lua, tendo inclusivamente estabelecido um objectivo temporal para a formação de uma plataforma lunar.

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  2. Sofia, se bem compreendi esses programas, o grande problema deles é o financiamento.

    O anúncio é feito hoje para que os resultados apareçam na década de 2020-30, mas o maior esforço financeiro - enorme! - acontecerá na década de 2010-20. O resto será fácil de adivinhar e já se passou anteriormente.

    Em suma, o mais "barato" e também politicamente mais rentável é anunciar metas planetárias para daí a 25 anos.

    Isto não invalida que o retorno à Lua possa ser mesmo levado para diante. Basta a China mostrar a mesma intenção...

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