07 dezembro 2006

POR FALAR EM LÍNGUAS…


Um problema linguístico que acontece no maior país do mundo torna-se sempre num grande problema linguístico. São poucos os que sabem que o chinês só é uniforme na sua forma escrita. Como não existe um alfabeto fonético como no ocidente, os leitores de diferentes pontos do país podem identificar os mesmo caracteres e interpretá-los precisamente da mesma maneira só que quando o pronunciam na forma oral os resultados são completamente diferentes.

Seleccionando três cidades do Norte (Pequim), Centro (Xangai) e Sul (Hong-Kong) da China, o símbolico acto de agradecer soará de três maneiras completamente distintas: xie-xie, sha zha e do jey. Para um chinês que esteja a fazer turismo no seu próprio país, o problema pode não ser saber ler o que está na ementa do restaurante mas sim conseguir fazer-se entender a fazer a encomenda do que quer comer… E fará todo o sentido que um filme chinês passe nos cinemas nacionais com legendas sem ser a pensar só nos surdos…

A versão predominante e oficial é a do mandarim – internamente designam-no como putonghua, ou língua comum – usado no Norte da China: se o leitor quiser fazer uma cortesia a um chinês, na dúvida, agradeça-lhe usando o xie-xie. Mesmo que ele seja de outra origem, conhece mandarim. Contudo, tanto Xangai como Hong-Kong são uma espécie de capitais de vastas áreas regionais de grande prosperidade com potencial para rivalizarem com Pequim.

Hong-Kong só recentemente (1997) se integrou na China, mas Xangai é desde há muito considerada como uma espécie de metrópole rival de Pequim. Era considerada, por exemplo, a base de apoio político principal do Bando dos Quatro. E recentemente, quando houve a necessidade de purgar o aparelho local do partido, num gesto inédito e muito significativo, o actual presidente Hu Jintao fez um apelo à colaboração do seu antecessor Jiang Zemin, que havia sido precisamente dirigente do partido em Xangai.

Mais leve e mais engraçada foi a disputa, também recente, à volta dos direitos de dobrar os desenhos animados de Tom e Jerry que passavam nas televisões regionais usando as diversas falas regionais. Destinados naturalmente às crianças, que o poder central prefere ver alfabetizadas em mandarim, o mesmo poder central pôs fim a isso e o Gato e o Rato (como a série é conhecida na China) passaram a falar num mandarim impecável perante um enorme clamor de protestos regionais, especialmente vindos de Xangai.

A maior ironia desta pequena história é que, se bem se recordam da série original, embora se fartassem de correr atrás um do outro, Tom e Jerry nem sequer falavam…

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