O tempo que corre ainda fará a justiça que é devida a Edward Heath, o Primeiro-Ministro britânico de 1970 a 1974 e a quem se atribui a maior responsabilidade pela adesão do Reino Unido à (então) Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1973. Para a realização do feito convém também não nos esquecermos de mencionar que o ex-Presidente francês Charles de Gaulle, que havia vetado sem quaisquer cerimónias as tentativas de adesão anteriores dos britânicos, havia morrido em 1970.
Com a entrada do Reino Unido para a CEE, o país pode recuperar os instrumentos para desenvolver a sua política externa de séculos em relação à Europa. E a política externa britânica em relação à Europa é simples. Aliás, creio que as Grandes Estratégias são normalmente as mais simples de explicar: a do Reino Unido consiste em impedir a ascensão de qualquer poder hegemónico continental. Houve tempo em que se colocou em oposição frontal à potência que a isso aspirava – com Napoleão ou com Hitler.
Só que a política europeia depois da Segunda Guerra tornou-se muito mais complexa, talvez pela presença de um fortíssimo actor não-europeu (Estados Unidos), e quaisquer pretensões hegemónicas para um futuro longínquo tornaram-se por isso muito mais dissimuladas. Não havendo nenhum país a quem, aparentemente, se fizesse oposição frontal – excluindo evidentemente a União Soviética, mas isso era sobretudo um problema norte-americano – o Reino Unido só ganharia na altura em mudar o seu estilo de abordagem nas relações europeias.
Foi hora de abandonar os orgulhosos particularismos britânicos e passar a conviver com os parceiros europeus ou, usando uma metáfora tauromáquica, deixar-se de pegas de caras para passar a pegas de cernelha e aderir a CEE. Só estando lá dentro o Reino Unido poderia impedir que ali pudesse haver concórdia demais. Claro que este rumo é difícil de ser compreendido por muitos britânicos, ainda ciosos da sua especificidade, e é impossível de lhes ser explicado às claras, com todo o cinismo político que contém.
Objectiva e significativamente, a notória euro-céptica Margaret Thatcher teve as oportunidades de 11 anos de poder para que, justificando a retórica, o Reino Unido saísse da União Europeia e isso não aconteceu nem esteve para acontecer. É evidente que isso lhe retiraria uma significativa parte da capacidade de manobra da política externa do Reino Unido em relação à Europa. E o fim da Guerra-Fria e as suas sequelas, nomeadamente a reunificação alemã, apenas tornaram esse particular aspecto ainda mais importante.
À luz de tudo isto, torna-se engraçado ler e interpretar o significado de um artigo hoje publicado no Diário de Notícias, assinado pela Ministra dos Negócios Estrangeiros britânica Margaret Beckett e com o título suspeitíssimo de Uma opção estratégica para a Europa. Um britânico invocando estratégia e Europa na mesma frase é mesmo de desconfiar… Claro que se trata de um texto pugnando pela futura adesão da Turquia na União Europeia e que termina com um gracioso exercício de cinismo.
É que, ao contrário do que Margaret Beckett lá escreve, e como ela sabe bem demais, os países da União não estão nada unidos num claro empenhamento relativamente à adesão da Turquia. A Alemanha e a França, entre os principais, já mostraram através de todos os eufemismos possíveis que detestam a ideia. E os britânicos genuínos dirão: Abençoado Ted Heath que, como europeísta convicto, enganou os continentais e facultou-nos a possibilidade de lhes sabotar as reuniões!
Com a entrada do Reino Unido para a CEE, o país pode recuperar os instrumentos para desenvolver a sua política externa de séculos em relação à Europa. E a política externa britânica em relação à Europa é simples. Aliás, creio que as Grandes Estratégias são normalmente as mais simples de explicar: a do Reino Unido consiste em impedir a ascensão de qualquer poder hegemónico continental. Houve tempo em que se colocou em oposição frontal à potência que a isso aspirava – com Napoleão ou com Hitler.
Só que a política europeia depois da Segunda Guerra tornou-se muito mais complexa, talvez pela presença de um fortíssimo actor não-europeu (Estados Unidos), e quaisquer pretensões hegemónicas para um futuro longínquo tornaram-se por isso muito mais dissimuladas. Não havendo nenhum país a quem, aparentemente, se fizesse oposição frontal – excluindo evidentemente a União Soviética, mas isso era sobretudo um problema norte-americano – o Reino Unido só ganharia na altura em mudar o seu estilo de abordagem nas relações europeias.
Foi hora de abandonar os orgulhosos particularismos britânicos e passar a conviver com os parceiros europeus ou, usando uma metáfora tauromáquica, deixar-se de pegas de caras para passar a pegas de cernelha e aderir a CEE. Só estando lá dentro o Reino Unido poderia impedir que ali pudesse haver concórdia demais. Claro que este rumo é difícil de ser compreendido por muitos britânicos, ainda ciosos da sua especificidade, e é impossível de lhes ser explicado às claras, com todo o cinismo político que contém.
Objectiva e significativamente, a notória euro-céptica Margaret Thatcher teve as oportunidades de 11 anos de poder para que, justificando a retórica, o Reino Unido saísse da União Europeia e isso não aconteceu nem esteve para acontecer. É evidente que isso lhe retiraria uma significativa parte da capacidade de manobra da política externa do Reino Unido em relação à Europa. E o fim da Guerra-Fria e as suas sequelas, nomeadamente a reunificação alemã, apenas tornaram esse particular aspecto ainda mais importante.
À luz de tudo isto, torna-se engraçado ler e interpretar o significado de um artigo hoje publicado no Diário de Notícias, assinado pela Ministra dos Negócios Estrangeiros britânica Margaret Beckett e com o título suspeitíssimo de Uma opção estratégica para a Europa. Um britânico invocando estratégia e Europa na mesma frase é mesmo de desconfiar… Claro que se trata de um texto pugnando pela futura adesão da Turquia na União Europeia e que termina com um gracioso exercício de cinismo.
É que, ao contrário do que Margaret Beckett lá escreve, e como ela sabe bem demais, os países da União não estão nada unidos num claro empenhamento relativamente à adesão da Turquia. A Alemanha e a França, entre os principais, já mostraram através de todos os eufemismos possíveis que detestam a ideia. E os britânicos genuínos dirão: Abençoado Ted Heath que, como europeísta convicto, enganou os continentais e facultou-nos a possibilidade de lhes sabotar as reuniões!
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