Na minha infância, quando ir a Espanha tinha algo de exótico, e eu me sentia importante por lá ir com uma frequência superior à dos demais, por causa das origens raianas da minha família, aprendi à minha custa quais eram as contrapartidas daqueles artigos que por lá se compravam e que saíam sempre mesmo em conta.
Assim, um brinquedo arriscava-se a ter uma duração de três minutos antes de se quebrar por algum lado, um refrigerante arriscava-se a ter um sabor positivamente infecto (era a famosa La Casera, saudosa pela garrafa reutilizável, mas não pelo conteúdo da dita…) e, comendo um chocolate, arriscávamo-nos a coisas bem piores…
Hoje, parece ser esse mesmo o espírito que preside às compras que se fazem nas lojas chinesas: não é garantido que o chapéu-de-chuva funcione mais do que cinco vezes, nem que a acetona consiga remover a cola, conforme as leis da química estabelecem que deve acontecer ou que as inscrições numa bandeira portuguesa correspondam à disposição do escudo.
É o tipo de negócio que, reflectindo bem, de tão barato se arrisca a ser muito caro: um chapéu-de-chuva de cinco euros aproveitado cinco vezes sai a um euro por chuvada! E cria um tipo de concepção de qualidade dos produtos que se reflectem colateralmente noutros produtos que tenham a mesma origem.
Para quem esteja a pensar na chegada dos futuros automóveis de origem chinesa que, com os seus preços imbatíveis, vão arrasar o mercado, fique-se a saber (via The Economist) que, de acordo com o Índice de Satisfação do Cliente Automóvel da China, o número de defeitos por 100 carros ali construídos passou de 246 em 2005 para 338 este ano e que a probabilidade dum carro feito na China dar um qualquer problema nos primeiros seis meses depois da sua aquisição é de 80%.
Enfim, mesmo sendo uma reedição, ainda mais baratucha e mal amanhada, dos SEAT da década de 80, antes daquela marca espanhola ter sido adquirida pela Volkswagen, com o seu preço a rondar os cerca de 5.000 Euros a unidade (é o seu preço à saída de fábrica) é sempre difícil aos clientes tratar os automóveis que compraram como artigos descartáveis, tal qual os guarda-chuvas.
Do lado da produção, os fabricantes chineses parecem continuar a batalha pela redução de custos e pela apresentação de um produto que seja ainda mais barato. Pode ser uma batalha ingrata porque, do lado da procura, encontra-se o tipo de cliente que decidindo-se pelo preço, é considerado pelos manuais o de perfil mais instável e infiel. Infidelidade quer às marcas, quer em atitude, pois é um tipo de cliente que, subitamente, bem pode deixar de decidir escolher exclusivamente pelo preço e partir à procura de um pouco mais de qualidade.
Muitas das certezas da globalização parecem ser ainda muito incertas. Pelos vistos, talvez ainda lhes faltem algumas coisas para que as empresas chinesas arrasem com a concorrência. Não foi pelos preços de arromba que os SEAT se afirmaram nos mercados externos, pois não?
Assim, um brinquedo arriscava-se a ter uma duração de três minutos antes de se quebrar por algum lado, um refrigerante arriscava-se a ter um sabor positivamente infecto (era a famosa La Casera, saudosa pela garrafa reutilizável, mas não pelo conteúdo da dita…) e, comendo um chocolate, arriscávamo-nos a coisas bem piores…
Hoje, parece ser esse mesmo o espírito que preside às compras que se fazem nas lojas chinesas: não é garantido que o chapéu-de-chuva funcione mais do que cinco vezes, nem que a acetona consiga remover a cola, conforme as leis da química estabelecem que deve acontecer ou que as inscrições numa bandeira portuguesa correspondam à disposição do escudo.
É o tipo de negócio que, reflectindo bem, de tão barato se arrisca a ser muito caro: um chapéu-de-chuva de cinco euros aproveitado cinco vezes sai a um euro por chuvada! E cria um tipo de concepção de qualidade dos produtos que se reflectem colateralmente noutros produtos que tenham a mesma origem.
Para quem esteja a pensar na chegada dos futuros automóveis de origem chinesa que, com os seus preços imbatíveis, vão arrasar o mercado, fique-se a saber (via The Economist) que, de acordo com o Índice de Satisfação do Cliente Automóvel da China, o número de defeitos por 100 carros ali construídos passou de 246 em 2005 para 338 este ano e que a probabilidade dum carro feito na China dar um qualquer problema nos primeiros seis meses depois da sua aquisição é de 80%.
Enfim, mesmo sendo uma reedição, ainda mais baratucha e mal amanhada, dos SEAT da década de 80, antes daquela marca espanhola ter sido adquirida pela Volkswagen, com o seu preço a rondar os cerca de 5.000 Euros a unidade (é o seu preço à saída de fábrica) é sempre difícil aos clientes tratar os automóveis que compraram como artigos descartáveis, tal qual os guarda-chuvas.
Do lado da produção, os fabricantes chineses parecem continuar a batalha pela redução de custos e pela apresentação de um produto que seja ainda mais barato. Pode ser uma batalha ingrata porque, do lado da procura, encontra-se o tipo de cliente que decidindo-se pelo preço, é considerado pelos manuais o de perfil mais instável e infiel. Infidelidade quer às marcas, quer em atitude, pois é um tipo de cliente que, subitamente, bem pode deixar de decidir escolher exclusivamente pelo preço e partir à procura de um pouco mais de qualidade.
Muitas das certezas da globalização parecem ser ainda muito incertas. Pelos vistos, talvez ainda lhes faltem algumas coisas para que as empresas chinesas arrasem com a concorrência. Não foi pelos preços de arromba que os SEAT se afirmaram nos mercados externos, pois não?
Exactamente. As lojas cheias de quinquilharias, com pensos higiénicos ao lado da benzina e dos chocolates, barato, barato, barato, igual às antigas lojas dos trezentos, são o caminho certo para gastar dinheiro inutilmente. Neste caso, o "balato" sai mesmo "calo"!
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