28 janeiro 2007

HOUSE M.D.

Esta série de televisão tem, para mim, um aspecto que a faz ser apreciada e vários outros que a fazem sê-lo muito menos. E as segundas serão tão potentes que me fazem suspeitar de quem lhe proclama os méritos. O aspecto que me leva a apreciá-la e que, creio, se tornou na sua imagem de marca, é a excelente composição de Hugh Laurie, o actor que desempenha a figura central da história, o brilhante mas insuportável Dr. Gregory House.

Em contrapartida, o hospital onde House exerce toda a sua competência é um hospital inacreditável, no sentido literal da palavra. Quase não há enfermeiros, e quanto a técnicos ou outros médicos especialistas nem se vêm, porque a equipa que acompanha House percebe de tudo – imagiologia, análises clínicas, nefrologia, anatomia patológica… tudo. Fosse aquilo mesmo assim e Correia de Campos resolveria os problemas das urgências do SNS de uma penada…

Não se contesta que, para benefício da narrativa, nestas séries de carácter popular se proceda a simplificações, como acontece por exemplo em CSI, onde a existência de três ou quatro técnicos de laboratório com diferentes pelouros sintetizam a realidade de uma dúzia. Mas em House M.D. há um certo exagero na sintetização de uma dúzia de especialidades com os respectivos médicos e técnicos em… zero.

Segue-se o problema da emissora que transmite a série, a TVI, que, não lhe contestando a decisão de a transmitir à hora que muito bem entende, ainda lhe adiciona o péssimo hábito de a intercalar com intervalos publicitários que, suspeito, têm uma duração (mais de 20 minutos!) superior à do tempo útil da própria série em si. Por consequência, tornei-me um espectador especializado em metades de série House M.D

Finalmente, o que mais me irrita em House M.D., e que terá sido a causa mais imediata para este poste, e da qual nem os produtores nem a emissora têm a culpa, é a pose que tenho visto associada a quem se confessa admirador incondicional desta série e a chega a classificar, sem hesitação, como uma série de culto. O que me intriga porque, para quem não tem formação médica superior, creio que há uma enorme dificuldade em acompanhar a evolução das hipóteses de diagnósticos de House.

Vale a pena intercalar aqui um episódio, quando, em conversa, perguntei a um amigo qual era a sua concepção pessoal de derivada ao que ele se preparou para trautear a definição que vinha no livro e depois o interrompi, comentando que estava a perguntar qual era a concepção dele e não a de Piskounov, que era excelente e de certeza ainda melhor do que a minha. Episódio maldoso, de que me penitencio, confesso que, por vezes, bem gostaria de fazer perguntas similares noutras ocasiões e circunstâncias, sem a casualidade com que fiz aquela.

Esta é uma delas. Retiraria um prazer secreto e perverso em reunir num grupo aqueles que ouço a gabar ostensivamente a dita série, para lhes projectar um qualquer episódio de House M.D., cujo caso clínico os admiradores depois sintetizariam em palavras suas no fim do mesmo. Desconfio que as respostas seriam muito engraçadas... Mesmo para aqueles que, defensivamente, viriam com certeza argumentar que a questão do diagnóstico clínico não é central para a qualidade da série, guardar-lhes-ia o comentário que, assim e por eles, House até podia ser um reparador de bicicletas, desde que fosse excêntrico e malcriado…

1 comentário:

  1. Só vi um episódio da série House M. D. por acaso. O actor é mesmo excelente, mas a série pareceu-me uma daquelas ditas de culto, o que quer que isso queira dizer, com muitas coisas incompreensíveis para nós, comuns mortais. Para ser sincera, continuo a preferir E. R.

    Beijinhos :)

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