11 janeiro 2007

EXPERIMENTEM LÁ FAZER ISSO E DEIXEM-SE DE TRETAS…

Confessadamente tenho um fraquinho por Winston Churchill. Também desconfio que Churchill tenha sido alguém mais fácil de admirar à distância do que à proximidade. A leitura dos diários de alguém que com ele privou de muito perto, como o Marechal Alan Brooke, durante a Segunda Guerra Mundial, deixa perceber como o Primeiro-Ministro britânico devia ser insuportável, com a sua actividade febril.

Alan Brooke que, infelizmente, é uma das figuras superiores mais discretamente tratadas pela História Mundial recente, era um rival à altura de Churchill nos seus comentários irónicos, onde mostrava percebê-lo como poucos: Winston tem dez ideias novas por dia, em que uma delas é boa e é até mesmo realizável; infelizmente, ele não sabe qual delas é…

Mas é de uma das boas citações de Churchill e não das boas citações sobre Churchill que este poste pretende tratar. Churchill tem a reputação de escrever bem, especialmente num estilo em que o que ficava escrito soava particularmente bem quando lido. E se o leitor fosse ele. Se isso dará consistência à atribuição de um Prémio Nobel da Literatura (o de 1953) é que já não sei...

Mas o caso concreto de que quero falar está associado a uma das suas ideias de Maio de 1942, para a construção de portos artificiais que pudessem servir de apoio logístico às tropas que viessem a desembarcar no continente. Estava-se a dois anos da Retirada de Dunquerque no passado e à mesma distância do Desembarque da Normandia, no futuro. A ideia de portos artificiais a partir de elementos pré-fabricados aproximar-se-ia da ficção científica.

O despacho de Churchill no fim do documento onde a proposta é endereçada termina com uma das melhores frases que conheço em que um sonhador se descarta das responsabilidades de fazer com que o seu sonho se transforme em realidade: Don´t argue the matter; the difficulties will argue for themselves (Nem valerá a pena argumentar contra a proposta, serão as suas próprias dificuldades a fazê-lo).

Embora não goste do princípio, há que reconhecer que em Junho de 1944, por ocasião do Desembarque da Normandia, tinham sido concebidas umas grandes estruturas flutuantes de afundamento rápido que vieram a ser conhecidas pelo nome de código Mulberry (na gravura que ilustra o poste) e que serviriam de portos para o aprovisionamento dos Aliados enquanto estes não conquistaram nenhuma cidade que tivesse um, natural.

Ficara marcada uma forma erudita, tipicamente churchilliana, de dizer: Experimentem lá fazer isso e deixem-se de tretas…

1 comentário:

  1. E fizeram!
    E, ainda por cima, resultou!

    Só não se lembraram de fazer uma ponte para poderem manter o isolamento do Continente!
    Creio que, ainda hoje, têm o túnel “atravessado”!!!

    ResponderEliminar