
Para além de reconhecer o mérito da prodigiosa imaginação de Clancy – em Debt of Honor (1994), ele antecipa-se 7 anos e faz despenhar um Jumbo suicida sobre o edifício do Capitólio em Washington, matando o presidente e a maioria dos congressistas – as circunstâncias em que decorre a sua história também retiram qualquer hipótese que o conflito do Médio Oriente possa ser visto numa perspectiva maniqueísta pró-israelita como normalmente as obras de ficção norte-americanas contêm. Aqui, Israel tem a bomba (verdadeiro), roubou os próprios aliados para obter o material para a construir (muito possível) e estava disposto a usá-la se as coisas lhe tivessem mal (muito provável).
Da mesma forma desapaixonada que inspirou a redacção do livro, também nos podemos perguntar porque é que, tendo Israel capacidade nuclear, o Egipto, a Síria, o Irão, a Turquia ou a Arábia Saudita – seus potenciais oponentes – não poderão ter aspirações a tê-la também? E essa deve ser a pergunta essencial a colocar quando se discute a questão do programa nuclear iraniano. Porque a verdade é que toda esta questão é de cariz geoestratégico e não tem nada a ver com o problema dos regimes, como o vemos repetidamente abordado. Numa perspectiva ocidental, há muitos regimes antipáticos que têm a bomba e há que viver com eles – Rússia, China, Paquistão…

A recente resposta de Teerão às propostas para que interrompa as suas pesquisas estão no limiar do equilíbrio entre o que se pode considerar cordato do ponto de vista diplomático mas sem fazer nenhuma inflexão significativa quando ao abandono do processo de enriquecimento do urânio. É desconfortável, mas realista, habituarmo-nos à ideia que o Irão virá, a prazo, a possuir a capacidade de produzir armamento nuclear. Como parece acontecer também com a Coreia do Norte. Como possivelmente virá a acontecer com a Turquia e a Arábia Saudita (os dois candidatos mais prováveis a reagir ao Irão).
Tudo aponta para que a nova gramática das demonstrações de poder nas relações internacionais entre as potências nesta ordem multipolar dos princípios do século XXI utilize a capacidade nuclear da mesma forma como há 100 anos atrás elas usavam os grandes couraçados (dreadnought): potência que se prezasse tinha que ter alguns e a lógica da sua posse também seguia linhas regionais (exemplo: o Brasil adquiriu, a Argentina também quis ter o que forçou o Chile a arranjar…). E termino com um desejo: o de que a analogia não se fique só por aqui. Fora das demonstrações, os couraçados nunca foram muito usados em combate…
Curiosidade:
Países dispondo ou com programas para adquirir couraçados em 1914: Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Itália, Rússia, Áustria-Hungria, Turquia, Brasil, Argentina, Chile, Espanha e Suécia.
Países dispondo ou com programas para aquisição de capacidade nuclear em 2006: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Israel, Paquistão, Coreia do Norte, Irão...
Como demonstração de poderio marítimo creio que os couraçados cederam o lugar aos porta-aviões.
ResponderEliminarNesse aspecto o Brasil não quis perder o comboio e, segundo reza a História, cada vez que saía para o mar, o Brasil deixava de comer para pagar as despesas...
Porque será que não temos também um porta-aviões?
É verdade que o clube dos possuidores de porta-aviões também foi um clube muito selecto: Estados Unidos, Reino Unido, França, Holanda, Austrália, União Soviética, Índia, Brasil e Argentina.
ResponderEliminarA Itália, a Espanha e a Tailândia têm os seus porta-helicópteros, mais pequenos e baratinhos, que é como se fosse uma espécie de porta-aviões comprado no IKEA...
Desconheço a classe do porta-helicópteros italiano e nem sonhava que a Tailândia também possuia material semelhante.
ResponderEliminarOs nossos vizinhos sei que transportam caças-bombardeiros "Harrier", um helicóptero adaptado a avião (ou vice-versa!) com bastante sucesso!
Além do Principe das Astúrias (espanhol) de 1988, o italiano é o Giuseppe Garibaldi de 1985 e o tailndês o Chakri Nareubet de 1997. O equipamento, como seria de esperar, é composto por um misto Harriers V/STOL e helicópteros de transporte ou de luta anti-submarina.
ResponderEliminarQuem sabe, sabe!
ResponderEliminarQuem, como eu, não sabe, só pode agradecer... e aprender!
Nunca pensou dedicar-se ao Ensino?
Gostaria de o ter tido como Professor de História, função que desempenha, oficiosamente, com brilho!!!
Não posso deixar de concordar com o "impaciente português"!
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