
A figura de Dayan tinha muita saída (tanta quanto a de Che Guevara noutras paragens) porque um capacete não era ornamento que se costumasse ver na cabeça de ministros, nem mesmo da defesa, a que se juntava aquela pala no olho esquerdo* que lhe trazia um charme inconfundível, num homem a quem até não se podia acusar de, militarmente, ter vistas curtas.
Lembrei-me de alguém assim como Dayan, muito arguto mas que só vê de um olho, quando me deliciei a ouvir as explicações preparatórias do Ministro Teixeira dos Santos a propósito das razões pelas quais não se poderão vir a cumprir os objectivos para o défice orçamental para 2006 de 4,6%.
Passando adiante os encómios que, na cerimónia da sua recondução, Vítor Constâncio se excedeu em dirigir ao governo, deve ter sido por causa disso que o ambiente se afigurava propício às explicações mais ousadas, como a de que a execução orçamental do lado da despesa está a ser cumprida. Deve ser o olho bom de Teixeira dos Santos.
O que fiquei por ouvir foi como estava a correr a execução orçamental do lado das receitas. Possivelmente este é o olho de Teixeira dos Santos que tem a pala. Tenho a certeza que o Ministro está consciente que há por aí quem saiba que ele tanto é responsável pelo orçamento das despesas como pelo das receitas e que o valor do défice se calculará no fim subtraindo as primeiras às segundas.
É que nem toda a gente parece estar tão embevecida com a prestação governamental como este Governador do Banco de Portugal, hoje reconduzido. Constâncio bem pode afirmar que se indicia um processo de verdadeira consolidação orçamental. Também suspeito que haja indícios que o Governador já ande a exorbitar as suas funções.
* Segundo a versão oficial, o incidente que causara a Dayan a perda do olho também danificara de tal forma a sua órbita que impedia o uso de uma prótese ocular – um olho de vidro.
Não é, António Cagica, e aí é que mora o perigo! - como se diria no Brasil.
ResponderEliminarO cálculo das receitas parte de pressupostos que às vezes não se cumprem.
Por exemplo, as estimativas de receitas do ISP (imposto sobre produtos petrolíferos - aquele que transforma a gasolina 4 a 5 vezes mais cara do que o preço do que ela sai à saída da refinaria) partem do pressuposto que a procura de combustiveis é inelástica.
Tradução do palavrão procura inelástica: quando o preço da gasolina aumenta 10%, o consumo de gasolina diminui menos de 10%. Mas, às vezes, em situações de crise, o consumo de gasolina começa a ser considerado um supérfluo e a reduzir-se sem obedecer a esse comportamento.
Em síntese, há muitas componentes da estimativa da receita de um orçamento que são feitas por pifometria - embora embrulhadas numa nomenclatura sofisticada.